(Vêm estas considerações a propósito da reunião dos
antigos alunos do Liceu de Setúbal, no passado dia 4 de Maio de 2013).
As reuniões de
“antigos” qualquer coisa, provocam sempre estranhos sentimentos. Que já não
somos aquilo que fomos, alunos de Liceu, colegas de Faculdade, companheiros de
armas ou de outra actividade. O que quer que tenha sido, já não é, mas a
reunião indica que os participantes conseguiram sobreviver o tempo suficiente
para poderem olhar para traz e fazer o balanço.
Reuniões...
De todas estas
reuniões, as dos antigos alunos do ensino secundário são certamente as mais comoventes,
sobretudo quando juntam colegas que se tinham perdido de vista desde há meio
século ou mais. Comparar evoluções e experiências neste caso é sempre
fascinante. Os outros tipos de reunião já são por natureza menos inocentes, já
estão demasiado contaminados pela competição de interesses profissionais, por
hierarquias sociais, ou pela partilha de experiências comuns, exclusivas e em circunstâncias
especiais.
Por isso essas reuniões começam com a alegria de nos
imaginarmos uns aos outros como fomos, continua com a nostalgia da juventude
que passou sem regresso e acaba com a realização que nos resta pouco em comum.
Crescemos mentalmente de forma diversa e tornámo-nos em estranhos de nós
próprios, que nem sempre se reconhecem no espelho do olhar dos outros nem na
imagem que guardamos na memória.
...e
tempo de balanço
Ao fazer o balanço do último meio século, é extraordinário
o que se passou neste país, no mundo e nas consequências para cada um. A
emigração dos camponeses e o exílio dos políticos, a guerra colonial e a
revolução começada em 1974. A expansão económica e a influencia cultural americana
no rasto das guerras que outros começaram. A guerra fria e o perigo nuclear. O
Vietname e Woodstock. Maio de 68 em Paris. Um Russo em órbita terrestre e dois
Americanos na Lua.
Chegaram o fim dos impérios coloniais e o fim das ditaduras
na Europa do Sul. A queda do muro de Berlim e a desagregação soviética. A
progressiva união dos países europeus. A generalização das guerras locais e do
terrorismo. Os estertores extremistas do islamismo (a última grande religião a
proteger pela violência o seu capital de ignorância diante do avanço da razão e
do progresso). As crises do capitalismo global, as grandezas e as misérias dos
estados sociais.
A
vida que passa...
Na vida de cada um, as diferenças podem parecer grandes mas
são realmente superficiais. A mesma luta por um lugar ao sol, para sobreviver
aos obstáculos, encontrar o seu caminho, partilhar as experiências, possivelmente
criar uma empresa e uma família. Na hora do balanço, olhar para trás com mais
ou menos felicidade e medir o tempo percorrido com as marcas deixadas nos
outros.
Distinguem-se as pessoas, como os países, entre os que se
afogam nos acontecimentos negativos, enquanto outros os ultrapassam e conseguem
manter um balanço positivo. São os primeiros que mais tarde se apercebem de
quando foram felizes sem darem por isso. Os segundos olham para os desastres
passados como provas de sobrevivência que sempre fizeram parte de todos os
percursos e que é preciso ultrapassar.
...vale
sempre a pena
O sucesso pessoal é sempre relativo às expectativas que se
criaram quando se pensava que tudo era possível e à realização posterior de que
a vontade pode ser grande mas o tempo é sempre curto. Mesmo que se empurre os
limites para além do normal, da média, os limites acabam sempre por ganhar. Cada
etapa tem um fim e chega sempre o fim de todas as etapas.
E aqui nos encontramos, a comparar as histórias de cada um,
que com mais ou menos cor e movimento neste ou naquele período, chegam sempre ao
cinzento que começa por nos invadir o aspecto exterior e acaba por nos devorar
o espírito. Para todos, por igual, tudo acaba, subitamente ou aos poucos.
Agradecimentos
Finalmente, uma
palavra de agradecimento para quem organiza as reuniões. Todos os que
participam ficam em dívida para com estes guardiões da memória, que actualizam
os ficheiros, mantêm os contactos, combinam datas, negociam lugares, recebem as
participações, pagam as contas, por vezes ficam com os prejuízos e
ocasionalmente ainda têm que aturar alguns descontentes...
Porque a reunião
poderia ter acontecido num lugar mais tranquilo, porque poderia ter sido à
beira-mar, porque... É certo que é sempre possível fazer melhor. Mas quando se
tomam decisões, tomam os que lá estão, os que trabalham. Para estes o
reconhecimento devido e para os outros um encorajamento para que avancem com as
boas ideias a tempo e horas. Para a próxima vez... com os desejos que ainda cá
possamos estar todos nessa altura.
JSR
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