Thursday, April 18, 2013

159 - Cacofonias

A paciência esgotou-se, enough is enough. O homem parece não se dar conta que o seu prazo de validade na prateleira, ou fora dela, já foi ultrapassado há muito. Mário Soares voltou à infância intelectual e, curiosamente, muitos supermercados do palavreado inscrevem-no nas suas marcas brancas, entre as promoções e os descontos em cartão partidário.
O Tide da memória lava cada vez mais branco
Desdobra-se em artigos e entrevistas contra um governo democraticamente eleito, que está a ter (relativamente...) mais sucesso nas suas políticas do que alguma vez tiveram os governos de que ele fez parte ou dirigiu, quando lhe foram dadas essas oportunidades. Esquece-se do período em que ele próprio teve que pedir ajuda ao FMI e dos problemas gravíssimos que o país então enfrentou, entre os quais o empobrecimento rápido disfarçado pela inflação.
Foi um péssimo ministro numa descolonização desastrosa, um primeiro-ministro incompetente que não conhecia os dossiers, um Presidente caricato com as suas palhaçadas nas viagens de estado e sem respeito pelas suas obrigações constitucionais, pois já nessa altura fazia campanha contra o governo de então.
A origem das espécies...
Agora não há disfarces, a tragédia está à vista de todos e não é com encantações oratórias que se resolve. Mas o nosso comentador e articulista, além de muitos e variados dislates, até compara a situação actual com as conjuras e a desordem que precederam o assassínio de D. Carlos e do príncipe herdeiro, que efectivamente terminou com a monarquia constitucional. Sem esquecer o “constitucional”.
Soares vem duma tradição de conspirações republicanas, de lojas maçónicas, de grupos violentos da carbonária e outros que, após o regicídio, não faziam a mínima ideia de como se governava uma nação. A primeira república trouxe algumas boas intenções, mas muita desordem e crimes de toda a ordem. Arruinou a pobre economia existente sem lhe substituir qualquer alternativa realista, a não ser considerar seriamente a venda das colónias para ganhar mais algum tempo de desgoverno.
...e os creacionistas
Não fosse um inevitável golpe de estado militar, que acabou por levar ao poder um “padreca” astucioso que pôs as finanças em ordem e a choldra terrorista na cadeia, e esses “republicanos” teriam conseguido destruir de vez o país. Por isso o regime fascizante de Salazar nunca teve oposição significativa. A sociedade ganhou em ordem o que o povo perdeu em liberdades democráticas que na realidade nunca tinha conhecido. A população esfomeada e farta de guerras civis, aceitou a troca durante algum tempo.
A situação mudou após a segunda grande guerra, quando uma nova geração se sentiu asfixiada por um regime autoritário em apodrecimento rápido. A grande burguesia encostava-se ao Estado, como de costume. A pequena burguesia dividia-se entre os medrosos e os manhosos. Alguns intelectuais e os movimentos operários foram recuperados pelo partido comunista.
Dizer o bem...
Neste contexto, Soares teve um papel importante em dois momentos históricos. Primeiro, participou na resistência à ditadura de direita e conspirou para instaurar uma regime marxista de esquerda; foi exilado e exilou-se, mas continuou a ser um ilustre desconhecido fora das intrigas nacionais. Depois, teve um papel fundamental na resistência à tentativa de tomada de poder dos comunistas quando se apercebeu do seu papel secundário em relação a Cunhal; em tempo útil, o dinheiro dos alemães fez nascer um monstro, com o seu próprio partido para o servir.
A situação económica actual é grave no mundo, na Europa e em Portugal. Já há demasiados especialistas a opinar segundo as suas escolas de pensamento, as suas ideologias e os seus interesses, para que venham dilettantes juntar-se ao coro de ilusões de que “a política” tudo resolve. Uma política económica europeia, sim, politiquices nacionais, não.
...e o mal dizer
Contava-se em Paris que “son ami Mitterand”, que era tudo menos seu amigo, lhe chamava “le rastaquouère”, um insulto miserável vindo dum “socialista caviar”, poseur, maquiavélico e arrogante. Nessa altura a França estava cheia de emigrantes portugueses, ignorados e explorados em bidonvilles, com a excepção de alguns (poucos) privilegiados. Estavam bem um para o outro.
Neste momento, as teorias farfalhudas que levaram Holande à Presidência da França, já estão na poubelle da história. Dos grandes socialistas que ajudaram a fazer a Europa, restam alguns descendentes fortuitos sem grandeza e sem ideias.
Moral da história
Os meios de informação exploram-no agora com a mesma crueldade e falta de ética com que ele e os seus amigos por ele, exploraram os outros durante toda a sua vida política. Façam-lhe o favor e façam-nos o favor, de o deixar em paz. Ele já não se dá conta do prejuízo que causa ao país quando faz soar as trombetas complacentes dos media, para alardear os seus instintos populistas nos momentos mais inoportunos.
Se sente a necessidade de fazer funcionar os neurónios exprimindo o que lhe passa pela cabeça, pode sempre escrever um blog para os amigos, se possível com um nome improvável, pois assim não virá grande mal ao mundo...
 É altura de dizer: basta.
JSR

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