De Roma veio o anúncio:
Habemus Papam! E um novo Papa
entra nas luzes da ribalta. Os media encheram o tempo de transmissão ou as
páginas, com histórias para entreter o público e imagens da magia das
cerimónias, do luxo, da arte e da cor.
Todavia, parece que com a eleição deste Papa Francisco, a
cúria romana vai passar por um daqueles períodos históricos em que a doutrina
cristã e o poder do Papado colidem no Vaticano, com consequências imprevisíveis.
O Cristianismo é um dos pilares essenciais da civilização
ocidental. O Papado teve um papel importante como herdeiro unificador da ideia
europeia que restava do império romano. As estruturas da Igreja foram das raras
luzes da civilização que sobreviveram durante as trevas da Idade Média.
Os Papas, representantes máximos da “Igreja triunfante”, estiveram
historicamente acima dos chefes bárbaros que invadiram o Império, se
converteram ao cristianismo, dividiram a Europa e substituíram a cultura positiva
pela fé. Foram árbitros e por vezes vítimas das querelas entre os interesses
das novas nações. Usaram a religião como arma de terror para submeter os
recalcitrantes supersticiosos, ameaçando-os com as penas do inferno.
A pompa do vestuário, a magnificência das cerimónias, as
imagens coloridas dos santos que substituíram os deuses tradicionais, a
grandeza dos edifícios, tudo contribuiu para que as populações se mantivessem espantadas,
reverentes e submissas. A aliança dos poderes temporal e espiritual reforçou-os
a ambos.
No tempo presente, as monarquias que restam, nas quais se
inclui o Papado, sabem que o espectáculo continua a contribuir grandemente para
o seu prestígio entre os súbditos ou fiéis. Para os que são cada vez menos uma
coisa e outra, o contributo económico que dão, através do apadrinhamento das
empresas nacionais e o aumento das receitas do turismo que provocam, diminui as
críticas à sua inutilidade ou irracionalidade.
Este novo Papa parece querer correr o risco de subverter
este paradigma de negócio da “firma”, como chamam os Ingleses à sua monarquia. Se
despe o manto do mistério e da distância, para ser um simples pastor, ganhará
prestígio entre os seculares ocidentais, que vêm na Igreja uma organização importante
de apoio psicológico e material, sobretudo nestes tempos difíceis. Diz o novo
Papa que a Igreja não pode ser apenas uma NGO (organização não governamental)
de assistência social e actividade caritativa. Mas esse é precisamente o maior
mérito que lhe é ainda reconhecido, para além das questões de fé a que apenas alguns
se entregam.
Mas é no resto do mundo que estão a grande maioria dos
crentes e onde a Igreja trava as suas batalhas do futuro. Contra as seitas que
se dizem cristãs mas que não são mais do que máquinas de marketing, vendendo
ilusões a preços de tabela. Contra a expansão do islamismo radical, que
substitui a necessidade de pensar individualmente e tomar decisões, pela
obediência cega a uma doutrina simplista que comanda todos os aspectos da vida.
Esta é uma Igreja militante, que não pode escolher as armas que quer, mas que
necessita de usar as armas que tem.
Um Papa Jesuíta, da elite intelectual da Igreja, que
escolhe o nome Francisco em honra de Francisco de Assis, o simples. Um
Argentino opositor dos Kirchners,
que sendo dois em estado de negação da realidade, destruíram a economia
para duas gerações. Um cardeal que vivia num pequeno apartamento, cozinhava as
suas refeições e andava em transportes públicos. Um sumo pontífice que se
considera sobretudo como bispo de Roma, um poliglota que só se exprime em
italiano, uma “santidade” que graceja e diz coisas populares para as bases.
Como este Papa não é nenhum inocente em relação às
intrigas romanas, esperemos que consiga evitar os ataques cardíacos, os
envenenamentos alimentares ou a queda súbita de algum tecto sobre a cabeça,
métodos com que os diferentes interesses da cúria resolvem tradicionalmente as
tentativas de inovações perigosas ou as curiosidades incómodas.
JSR
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