Saturday, March 30, 2013

154 - O Regresso ao “Voodoo” Político

Talvez valha a pena começar este post por uma “declaração de interesses”, neste caso mais propriamente uma declaração de ausência de interesses. Qualquer partido ou coligação de partidos que esteja no governo, tem uma margem muito estreita de autonomia na sua obrigação de tomar as medidas necessárias para satisfazer os credores e evitar a bancarrota total. Qualquer partido na oposição, tem que prometer aos eleitores “as setenta virgens de Alá” para ganhar votos. Tanto a governação como a oposição, podem ser mais ou menos inteligentes nos seus papéis. Para um observador isento, esta governação tem sido mais equilibrada do que a oposição.
O regresso de Sócrates, Jorge Coelho e outros, às grandes missas televisivas, coincide naturalmente com o facto de que este país chegou ao grau mais baixo do misticismo político pateta. A realidade deixou de ser realidade e muitos preferem viver numa terra do faz de conta. As cabeças comentantes acreditam nas suas próprias especulações e já não distinguem facto e ficção. Nesse universo paralelo o governo vai cair porque há manifestações na rua, porque foi entregue uma moção de censura no parlamento, porque o tribunal constitucional chumbará duas rubricas do orçamento, porque... porque sim.
Sócrates, um dos mestres contemporâneos do “voodoo” político, é naturalmente atraído a este terreiro das benzeduras, onde as galinhas sem cabeça  correm desaustinadas no meio de encantamentos e sortilégios. Com maioria no parlamento, o “voodoo” das moções de censura só funcionaria como “mau olhado” e só para quem acredita nessas baboseiras. Se calhar pensam que como o actual primeiro ministro vem de Massamá, terra dos “grandes feiticeiros africanos” que metem papelinhos nas caixas do correio a prometer “arranjos” para problemas de amor e dinheiro, o desgaste psicológico pode funcionar. Esperemos que não funcione, porque num temporal qualquer comandante de navio é melhor do que um comité.
O antigo primeiro ministro foi estudar para Paris durante dois anos, mas não aprendeu nada nem esqueceu nada, como dizia Talleyrand dos emigrados que tinham fugido da França durante o período revolucionário. Como o homem não é estúpido, representa muito bem o papel do idiota que continua a acreditar que o país não estava falido, que as estatísticas se podem manipular sem verificação, que gritar mais alto que os outros os convence em vez de os hostilizar. Como é que os jornalistas que o entrevistaram se deixaram maltratar e reduzir a meros compères duma má comédia, não se percebe, a menos que... Será espírito de missão?
Hoje no Expresso, o feiticeiro emérito do “voodoo” nacional, achou a prestação “brilhante”. Não há como um vendedor de ilusões para reconhecer o talento de outro. Ambos defraudaram as esperanças dos crentes e os cofres do estado, mas nada os faz calar, nem o ridículo. 
Já a volta de Jorge Coelho à vida política é mais óbvia: sai da toca da Mota-Engil a mando do dono, o sumo-sacerdote dos Espíritos, para defender os vários interesses da corporação, tais como as rendas excessivas das PPP’s e outras coutadas protegidas. Benesses postas em perigo pelas equipas dos ministérios das Finanças e da Economia, que começam a morder as canelas dos interesses económicos, maçónicos e outros menos confessáveis, que efectivamente mandam no estado. O governo é apenas mais um intermediário a prazo, como são os partidos, os tribunais e outras instituições supostamente independentes.
Todas as histórias têm a sua moral. Aconteça o que acontecer, o circo tem que continuar.
JSR

2 comments:

  1. Posso assinar por baixo? Concordo em 99%. O 1% de discórdia é que caindo o Governo (o que ainda não tenho a certeza que aconteça) o PR não marcará eleições se encontrar um Governo de consenso parlamentar e do seu agrado. E Rui Rio deve conseguir satisfazer ambas as coisas: deve conseguir o consenso PSD-CDS na AR e é, sabe-se há muito, do agrado do PR. E este facto pode introduzir novos e rocambolescos episódios a esta novela mexicana que se transformou a governação em Portugal...

    ReplyDelete
  2. Tudo está a ser feito para que o governo se mantenha, mesmo com algumas medidas chumbadas no TC, mesmo com resultados menos bons nas autárquicas. Tudo o resto é pressão psicológica, "woodoo""... Não é altura para eleições legislativas, com as autárquicas e as europeias no calendário, nem para experimentalismos, com a Itália sem governo, o Chipre sem direcção, a Grécia num caos e outros países no fio da navalha. Neste contexto Portugal é um exemplo de estabilidade e pode obter muitas facilidades da troika, se o governo souber negociar, do que não estou muito certo...

    ReplyDelete