Sunday, February 17, 2013

148 - A RTP e os Meios de Comunicação em Portugal

Quem não é um especialista nestes assuntos, só pode avaliar os media ou “meios de comunicação social”, baseado em comparações de experiências pessoais e directas. E terá sempre que o fazer com uma ponta de humor.
Muito se tem falado sobre a privatização da RTP e sobre o serviço público. Sobre modelos de privatização e sobre as diferentes formas de manter esse tal serviço público. Sobre a desistência da privatização ou apenas o seu adiamento e sempre como manter o sacrossanto “serviço público”.
Mas, o que é o serviço público? Nas democracias mais bem estabelecidas, essa preocupação é do domínio da cidadania (nos USA a excelente National Public Radio funciona sem publicidade, apenas com contribuições voluntárias). No outro extremo, os regimes autoritários têm o monopólio da informação (dos ridículos género Coreia do Norte, passando pelas fantochadas como na Venezuela, até à vigilância repressiva que o partido comunista chinês tenta manter sobre todas as formas de expressão do crescente vulcão popular). Depois, há as influencias berlusconescas, mafiosas e religiosas na Itália e vários outros países em redor do Mediterrâneo. Finalmente, existem as formas de transmitir perspectivas de interesses específicos (BBC World, da British Commonwealth, Al Jazira, dos Países do Golfo Pérsico) e outras, mais primitivas e menos interessantes, onde cada caso é um caso.
 Mas, em Portugal, onde há escolha e capacidade crítica, quem tem medo e do quê? Existe o receio de que os outros meios de comunicação não informem o público de forma isenta, objectiva e completa? Claro que não informam, mas a RTP também não. Na realidade, todos os governos valorizam a possibilidade de doutrinar a populaça e nunca largam mão voluntariamente dos meios mais eficazes que têm. Primeiro foram as pregações dos padres nas igrejas e depois a imprensa, que já não têm grande penetração popular. Por enquanto e ainda, é a caixa das ilusões que tem a utilidade de chegar aos mais influenciáveis. Mas progressivamente é a internet que se impõe na sociedade porque multiplica as escolhas, os contactos e as associações de interesses.
O serviço público pode ter alguma razão de ser onde é necessário apoiar culturas e idiomas em risco de subalternização internacional, devido ao quase monopólio do inglês. Sobretudo para assegurar a  sobrevivência económica de países como Portugal, a Espanha ou a França, aproveitando relações com antigas colónias e outros territórios onde perdura a presença da tradição ou das diásporas.
Mas essa necessidade pode ser assegurada pelo conjunto dos media, através de serviços razoáveis tornados obrigatórios na concessão das licenças. A sobrevivência económica é válida para os próprios media em geral, por isso a concorrência deve ser respeitada, mesmo com as distorções necessárias para captar audiências e publicidade, a fim de não sobrecarregar os contribuintes com os custos de mais uma empresa pública que pode ter componentes positivos, mas cujo valor real tem que ser avaliado de forma competitiva.
Embora as distorções para captar audiências e o valor correspondente da publicidade levem a critérios que são os do mínimo denominador comum. Transmitem qualquer acidente, mesmo que seja na outra parte do mundo, desde que haja mortos e feridos. Mas ignoram quase totalmente o fundo das questões, os acontecimentos realmente importantes nacionais ou internacionais. Para não mencionar os exageros, contradições e disparates que passam por notícias, onde a observar o relato que é feito daquilo que se conhece, se pode imaginar a confiança que merece o que é apresentado acerca do que não se sabe.
Os media portugueses são tão livres que por vezes chocam os leitores mais velhos e os mais conservadores. O leque disponível vai desde as televisões que todas transmitem as mesmas coisas às mesmas horas, as estações de rádio que lutam bravamente para manter o seu “créneau”, os jornais ditos de referência mas que não se inibem de tomar partido, passando pelas trombetas da “voz do dono”, até às escabrosamente alcoviteiras “revistas do bidé social”. Todos são demagogicamente parciais, incapazes de dar uma notícia simples e completa, os títulos não correspondem ao conteúdo, a ética jornalística é um achado arqueológico ocasional. Juntam-se os erros de português e a má tradução das notícias das agencias noticiosas, que por exemplo impedem de fazer a diferença entre o que é indicado como uma possibilidade e o que é dado como facto confirmado.
Por outro lado, há toda uma falange de cronistas e comentadores, alguns dos quais vale a pena ler (mais do que ouvir) e cuja qualidade ombreia bem em comparações internacionais. Uns, velhos políticos ou jornalistas “de rabo pelado” pela experiência. Outros, oriundos das cátedras universitárias, que sabem do que escrevem e que naturalmente divergem nas suas opiniões, embora nem todos com bom senso. Finalmente, as gerações intermédias, com humor e sarcasmo q.b., que observam tudo isto com olhos precocemente cépticos.
JSR

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