Quem não é um especialista
nestes assuntos, só pode avaliar os media ou “meios de comunicação social”, baseado
em comparações de experiências pessoais e directas. E terá sempre que o fazer com
uma ponta de humor.
Muito se tem falado sobre a
privatização da RTP e sobre o serviço público. Sobre modelos de privatização e
sobre as diferentes formas de manter esse tal serviço público. Sobre a
desistência da privatização ou apenas o seu adiamento e sempre como manter o
sacrossanto “serviço público”.
Mas, o que é o serviço
público? Nas democracias mais bem estabelecidas, essa preocupação é do domínio
da cidadania (nos USA a excelente National Public Radio funciona sem
publicidade, apenas com contribuições voluntárias). No outro extremo, os
regimes autoritários têm o monopólio da informação (dos ridículos género Coreia
do Norte, passando pelas fantochadas como na Venezuela, até à vigilância repressiva
que o partido comunista chinês tenta manter sobre todas as formas de expressão
do crescente vulcão popular). Depois, há as influencias berlusconescas,
mafiosas e religiosas na Itália e vários outros países em redor do Mediterrâneo.
Finalmente, existem as formas de transmitir perspectivas de interesses
específicos (BBC World, da British Commonwealth, Al Jazira, dos Países do Golfo
Pérsico) e outras, mais primitivas e menos interessantes, onde cada caso é um
caso.
Mas, em Portugal, onde há escolha e capacidade crítica, quem
tem medo e do quê? Existe o receio de que os outros meios de comunicação não
informem o público de forma isenta, objectiva e completa? Claro que não informam,
mas a RTP também não. Na realidade, todos os governos valorizam a possibilidade
de doutrinar a populaça e nunca largam mão voluntariamente dos meios mais
eficazes que têm. Primeiro foram as pregações dos padres nas igrejas e depois a
imprensa, que já não têm grande penetração popular. Por enquanto e ainda, é a
caixa das ilusões que tem a utilidade de chegar aos mais influenciáveis. Mas progressivamente
é a internet que se impõe na sociedade porque multiplica as escolhas, os
contactos e as associações de interesses.
O serviço público pode ter
alguma razão de ser onde é necessário apoiar culturas e idiomas em risco de subalternização
internacional, devido ao quase monopólio do inglês. Sobretudo para assegurar
a sobrevivência económica de
países como Portugal, a Espanha ou a França, aproveitando relações com antigas
colónias e outros territórios onde perdura a presença da tradição ou das
diásporas.
Mas essa necessidade pode ser
assegurada pelo conjunto dos media, através de serviços razoáveis tornados
obrigatórios na concessão das licenças. A sobrevivência económica é válida para
os próprios media em geral, por isso a concorrência deve ser respeitada, mesmo
com as distorções necessárias para captar audiências e publicidade, a fim de
não sobrecarregar os contribuintes com os custos de mais uma empresa pública
que pode ter componentes positivos, mas cujo valor real tem que ser avaliado de
forma competitiva.
Embora as distorções para
captar audiências e o valor correspondente da publicidade levem a critérios que
são os do mínimo denominador comum. Transmitem qualquer acidente, mesmo que
seja na outra parte do mundo, desde que haja mortos e feridos. Mas ignoram
quase totalmente o fundo das questões, os acontecimentos realmente importantes
nacionais ou internacionais. Para não mencionar os exageros, contradições e
disparates que passam por notícias, onde a observar o relato que é feito
daquilo que se conhece, se pode imaginar a confiança que merece o que é
apresentado acerca do que não se sabe.
Os media portugueses são tão
livres que por vezes chocam os leitores mais velhos e os mais conservadores. O
leque disponível vai desde as televisões que todas transmitem as mesmas coisas
às mesmas horas, as estações de rádio que lutam bravamente para manter o seu “créneau”,
os jornais ditos de referência mas que não se inibem de tomar partido, passando
pelas trombetas da “voz do dono”, até às escabrosamente alcoviteiras “revistas
do bidé social”. Todos são demagogicamente parciais, incapazes de dar uma
notícia simples e completa, os títulos não correspondem ao conteúdo, a ética
jornalística é um achado arqueológico ocasional. Juntam-se os erros de
português e a má tradução das notícias das agencias noticiosas, que por exemplo
impedem de fazer a diferença entre o que é indicado como uma possibilidade e o
que é dado como facto confirmado.
Por outro lado, há toda uma
falange de cronistas e comentadores, alguns dos quais vale a pena ler (mais do
que ouvir) e cuja qualidade ombreia bem em comparações internacionais. Uns,
velhos políticos ou jornalistas “de rabo pelado” pela experiência. Outros,
oriundos das cátedras universitárias, que sabem do que escrevem e que
naturalmente divergem nas suas opiniões, embora nem todos com bom senso.
Finalmente, as gerações intermédias, com humor e sarcasmo q.b., que observam
tudo isto com olhos precocemente cépticos.
JSR
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