O país voltou aos mercados, com
uma emissão de dívida antes da data prevista no acordo com a Troika (Setembro
2013) e com sucesso (juros de menos de 5% a 5 anos), numa oferta subscrita
cinco ou seis vezes e em mais de 90% por investidores estrangeiros. Se existem
sucessos na gestão das finanças públicas dum estado sujeito a um programa de
ajuda externa, este é um sucesso.
Não resolve tudo, nem sequer o
mais importante, mas é mais um passo para inverter a situação dramática em que
o país se encontra. Finalmente uma luz ao fim do túnel, embora um túnel ainda
longo.
Minimizar este sucesso é prova
de má fé. Alguns socialistas menos argutos estão a colocar os interesses de facções
partidárias acima dos interesses do país e do próprio partido. Ao colocar o
despeito acima da razão, estão a destruir a pouca credibilidade que ainda terão
após o naufrágio do último governo. O resto da esquerda, com todo o respeito
devido aos cidadãos que representa, sofre de bloqueio ideológico ou intelectual
e não tem grande contribuição prática na solução dos problemas presentes.
Por razões diversas, os media
dão uma importância inflacionada aos críticos que peroram como analistas e em
painéis de opinião. Críticos que espalham a confusão por demagogia ou ignorância.
Confusão que mistura factos com as suas causas e as consequências. Uma coisa são
as causas da crise em que o país se encontra, outra são as consequências económicas
e financeiras, outra ainda são os graves problemas sociais.
As causas da crise são
globais, com especificidades europeias e condicionalismos nacionais bem
conhecidos. Se as causas globais são irreversíveis, embora possam ser
minimizadas se houver vontade política das democracias ocidentais, se as causas
europeias vão sendo ultrapassadas com avanços demasiado lentos, a crise
nacional tem que ser resolvida como a questão de sobrevivência que realmente é.
Vir clamar que este sucesso no
regresso aos mercados não vem mudar nada nos sacrifícios que continuam a ser
exigidos aos cidadãos, está exactamente na mesma linha de raciocínio deformado que
levou à crise em primeiro lugar. Ou seja, importante era melhorar cada vez mais
os salários, o consumo e a protecção social das pessoas, sem preocupação com o
facto de que o país não tinha economia suficiente para esse aumento de despesa.
Por isso foi preciso tapar os buracos orçamentais, ano após ano, pedindo empréstimos
que acabaram por levar à bancarrota.
Na verdade, esta volta aos
mercados de capitais segue no rasto da tomada de posição do Banco Central
Europeu no suporte incondicional do Euro, mas isso é o mínimo que as instituições
europeias podem fazer. Se o projecto europeu não for defendido e não avançar,
deixa de haver União Europeia e volta a ser cada país por si. Ainda há muito
que fazer a curto prazo, tanto na Europa com a união bancária e fiscal, como no
país com a continuação das reformas para reduzir o défice público.
Já foi possível renegociar
algumas das condições do acordo com a Troika, como a extensão do prazo de
pagamento dos empréstimos. Falta agora renegociar as taxas de juros para este
período mais longo. Tudo isto podia ter sido feito antes, mas essa é uma decisão
que só um governo pode tomar, na determinação do tempo possível ou mais propício.
Importante é que o país consiga uma redução dos juros a um taxa igual ou
inferior ao crescimento da economia. Nada disto vai ser fácil e não é possível
perder mais tempo com vacilações políticas internas.
JSR
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