O recente relatório de assistência técnica, preparado
por técnicos do FMI a pedido do governo português, “Portugal: Rethinking the
State—Selected Expenditure Reform Options”, começa logo por dizer que as
opiniões expressas no documento não reflectem necessariamente as opiniões do
governo: “This paper was prepared based on the information available at the time it
was completed in January, 2013. The views expressed in this document are those
of the staff team and do not necessarily reflect the views of the government of
Portugal”.
Este relatório tem sido objecto de tantas
demonstrações de hipocrisia e ignorância, tantos aproveitamentos de política interna
rasteira, que a única atitude possível é deixar que “os cães ladrem enquanto a
caravana passa”. Vale a pena lembrar que este relatório será seguido de outros,
particularmente o da OCDE. Nenhuma organização internacional vem a Portugal e
prepara relatórios sobre o país, sem que isso faça parte dos acordos de adesão,
das responsabilidades regulares em relação aos países membros, ou sem terem
sido especificamente convidadas a fazê-lo.
Apesar de todos os sacrifícios já pedidos à
população, aumento de impostos e redução das despesas sociais, o país ainda
necessita de fazer as reformas necessárias para que as despesas não excedam as
receitas, e isto duma forma sustentada. Enquanto o Estado não conseguir esse
equilíbrio e tiver que financiar a diferença recorrendo a empréstimos, a
economia não consegue descolar e o país continuará a empobrecer. Todas as
sugestões sobre essas reformas devem ser bem vindas, compete depois ao governo
fazer as necessárias negociações políticas para escolher quais, como e quando
implementar. Tudo o resto é falatório de alcoviteiras partidárias.
Já nos anos 80 do século passado quando Portugal
fez o seu segundo pedido de assistência, a responsável pela implementação do
programa português comentava em Washington, entre surpreendida e irónica, que
cada vez que vinha a Lisboa, os jornalistas esperavam uma aparição de Fátima e
os políticos a chegada de D. Sebastião.
Provincianismos recorrentes.
JSR
Isto sem falar da reacção dos próprios partidos políticos ao relatório e, pior ainda, aos sinais cada vez mais positivos que vão surgindo do esforço que tem vindo a ser feito, dos quais o dia de hoje foi histórico (no sentido de ter permitido que o país comece a readquirir a independência financeira que havia perdido) mas que, aparentemente pelas declarações do PS, do PCP e do BE, estes gostariam que tal não tivesse acontecido.
ReplyDeleteNa sua opinião, que muito considero e sei ser de profundo conhecedor, foi ou não positivo e poderá ter sido o dia em que se iniciou o fim da crise, como me parece a mim que aconteceu?
Obrigado pelo comentário. Quando o recebi, já tinha na calha o post seguinte, que me parece responder a algumas das suas perguntas.
ReplyDeleteVoltar aos mercados a cinco anos com sucesso, não significa ainda o princípio do fim da crise, mas é um passo importante na boa direcção. Faltam ainda os outros passos que mencionei no último post, mais atravessar um ano muito difícil sem demasiada contestação social e finalmente conseguir que a economia comece a crescer, tanto em Portugal como na Europa.