Storm Over The U.S. Capitol |
Duas concepções da sociedade Americana travam uma
das últimas batalhas na sua guerra pelo futuro. Uma guerra civil entre antigos
e novos paradigmas económicos e sociais.
Dum lado o partido Republicano, conservadores
tradicionais e alguns extremistas, partidários dos valores de livre iniciativa e
responsabilidade individual, para quem “redistribution is a dirty word”. Com um
eleitorado composto na sua maioria por homens brancos, cristãos de diversas
denominações protestantes regulares e de algumas fundamentalistas, das classes
mais endinheiradas e também dos habitantes das cidades médias e pequenas da América
profunda. Em vias de perder a guerra demográfica, lutam nos seus últimos
redutos para manter o que consideram o espírito que fez a grandeza do país e o
diferencia das sociedades europeias.
Do outro lado, o partido Democrata, menos
conservador mas longe dos valores do centro e esquerda europeus, reivindicativo
do direito ao trabalho e de maior solidariedade social. Composto por uma
maioria de mulheres, minorias étnicas e outras, de crenças diversas, habitantes
das grandes cidades e dos Estados mais progressistas. Em grande aumento
demográfico, devido sobretudo à proliferação dos hispânicos como consequência
de maior natalidade e emigração incessante dos países ao sul. O tempo só vai
acentuar esta diferença.
O mundo suspendeu a respiração enquanto decorreram
as negociações entre as duas partes em conflito para evitar um precipício
orçamental (fiscal cliff) em 2013. Precipício causado pela possível extensão de
leis supostamente temporárias, assim como resultado das medidas necessárias para
reduzir o enorme e crescente deficit. Respira de alívio quando uma espécie de
acordo é conseguido e o presidente promulga a legislação que aumenta
ligeiramente os impostos dos mais ricos, continua os programas de apoio aos
mais desfavorecidos e mantêm a miríade de deduções permitida pelo código dos
impostos, assim como adia o corte nas despesas militares.
É certo que uma cura de austeridade demasiado
drástica nos EU teria consequências mundiais. Demasiada austeridade, aumentando
impostos e cortando despesa durante um período de abrandamento económico, leva
ao perigo de recessão. O pacote original provocaria uma descida de cerca de 5%
do PIB, o pacote que foi promulgado após negociações reduz a descida para cerca
de 2%. Os países emergentes, como a China ou a Índia, cujo crescimento
económico é altamente dependente das exportações para a Europa e para os
Estados Unidos, suportariam dificilmente uma recessão Americana a juntar a uma
Europa em crise.
Esta guerra civil tem um fim anunciado, para bem
ou para mal. Os Estados Unidos percorrem o caminho de progressiva solidariedade
social da Europa, caminho que é melhor ser sem retorno. Porque a alternativa
seria o retrocesso à barbárie, a rendição às correntes mais extremistas que
sempre percorrem o mundo e que por vezes vencem o progresso e a razão. O grande
desafio é conseguir conjugar o dinamismo económico com o peso dos encargos
necessários ao funcionamento do Estado.
Todavia, não deixa de ser curioso como para os Estados Unidos é
considerado um “fiscal cliff”, aquilo que na Europa é considerado indispensável
para a recuperação financeira e uma eventual retoma económica. Como dizem os
Franceses, recentemente embalados por promessas eleitorais irresponsáveis e
agora confrontados pela realidade da austeridade crescente: “Va-t’en savoir”...
JSR
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