Sunday, December 30, 2012

139 - Os Cartões de Boas Festas

Design by Danusia Janowski
Os cartões de boas festas são barómetros sociais. 
Os cartões que recebemos e os que enviamos, de quem e a quem, muitos ou poucos. Por eles se podem medir a proximidade das famílias, a qualidade dos amigos, o circulo dos conhecimentos, a teia dos interesses comuns, a importância social. Chegam às torrentes enquanto se ocupa lugares de importância e reduzem para o circulo mais próximo quando se deixa esses lugares.
O tempo muda também a forma dos votos e a tecnologia.
A celebração dos solstícios e equinócios é comum a todas as culturas. O equinócio da primavera foi durante muito tempo considerado o princípio do ano solar, pela razão obvia que representa o despertar da natureza após os rigores climáticos do inverno. A definição do calendário gregoriano teve como consequências a contagem dos anos desde a data suposta do nascimento de Jesus Cristo e a celebração do início do ano no solstício de inverno. A globalização da expansão europeia levou a que a datação anual se tornasse na data standard e o Natal cristão numa festa consumista global.
Dessas celebrações fizeram sempre parte os votos ou sacrifícios rituais aos deuses. Mais tarde, o envio de oferendas e depois cartas ou cartões em papel e materiais semelhantes, exprimiam esses mesmos votos aos familiares, amigos, protectores, clientes ou associados. Cartões oficiais ou empresariais, grandes, cheios de "logos" e com verdadeiras obras artísticas de design gráfico. Cartões de políticos, com frases de amizade de circunstância e por vezes com fotos de família, insinuando mútuos apoios para bem da grei. Outros, de particulares, são geralmente mais sóbrios, pessoais e calorosos. Há também as frases ocas do “feel good” com textos lamechas e ilustrações piegas, que todos nós comprámos ocasionalmente e que fez a fortuna das editoras especializadas em fornecer um pensamento “fast food” para cada ocasião.
Antigamente, os cartões enchiam mesas de entrada e recepção, secretárias e prateleiras de estantes. Agora, os cartões chegam maioritariamente por internet, para onde se têm mudado as antigas editoras de cartões com sites especializados. Uns são a digitalização de um cartão original em papel, outros são directamente feitos no computador.
Dos cartões recebidos nesta época, gostaria de distinguir dois, representativos do que foi escrito acima:
Um, recebido por internet do Center for Electronic Governance (UNU-IIST), foi criado por Dagusia Janowski, que trabalha em Londres como “graphics designer”. A sua execução foi descrita da forma seguinte: “The texture in the left top quadrant was obtained after hours of throwing blue paint on the paper with a toothbrush, then scanning the result. Likewise, the textures in the right top and right bottom quadrants were obtained after hours of scratching metal with a screwdriver, then scanning the result.” A arte necessita sempre de inspiração e trabalho, e este resultado é particularmente bem sucedido.
O outro, recebido dum casal de primos, que enviaram pelo correio um cartão feito por eles próprios, bem escrito e ilustrado à mão. São ambos médicos e católicos, que praticam na profissão e na fé o que muitos pregam e poucos fazem. Dedicaram a vida a missões de assistência médica nas regiões mais desfavorecidas do interior e na recuperação de tóxico-dependentes. Desinteressados de aparências e consumismos desnecessários. Depois de tantos anos nas rotas do mundo, é bom ter a família outra vez por perto.
Votos dum bom ano novo.
JSR

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