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Os cartões de boas festas são barómetros
sociais.
Os cartões que recebemos e os que enviamos, de
quem e a quem, muitos ou poucos. Por eles se podem medir a proximidade das
famílias, a qualidade dos amigos, o circulo dos conhecimentos, a teia dos
interesses comuns, a importância social. Chegam às torrentes enquanto se ocupa
lugares de importância e reduzem para o circulo mais próximo quando se deixa
esses lugares.
O tempo muda também a forma dos votos e a tecnologia.
A celebração dos solstícios e equinócios é comum a
todas as culturas. O equinócio da primavera foi durante muito tempo considerado
o princípio do ano solar, pela razão obvia que representa o despertar da
natureza após os rigores climáticos do inverno. A definição do calendário gregoriano teve como
consequências a contagem dos anos desde a data suposta do nascimento de Jesus
Cristo e a celebração do início do ano no solstício de inverno. A globalização
da expansão europeia levou a que a datação anual se tornasse na data standard e
o Natal cristão numa festa consumista global.
Dessas celebrações fizeram sempre parte os votos ou
sacrifícios rituais aos deuses. Mais tarde, o envio de oferendas e depois
cartas ou cartões em papel e materiais semelhantes, exprimiam esses mesmos votos
aos familiares, amigos, protectores, clientes ou associados. Cartões oficiais
ou empresariais, grandes, cheios de "logos" e com verdadeiras obras artísticas de
design gráfico. Cartões de políticos, com frases de amizade de circunstância e
por vezes com fotos de família, insinuando mútuos apoios para bem da grei. Outros, de particulares, são geralmente mais
sóbrios, pessoais e calorosos. Há também as frases ocas do “feel good” com
textos lamechas e ilustrações piegas, que todos nós comprámos ocasionalmente e
que fez a fortuna das editoras especializadas em fornecer um pensamento “fast
food” para cada ocasião.
Antigamente, os cartões enchiam mesas de entrada e
recepção, secretárias e prateleiras de estantes. Agora, os cartões chegam
maioritariamente por internet, para onde se têm mudado as antigas editoras de
cartões com sites especializados. Uns são a digitalização de um cartão original
em papel, outros são directamente feitos no computador.
Dos cartões recebidos nesta época, gostaria de
distinguir dois, representativos do que foi escrito acima:
Um, recebido por internet do Center for Electronic
Governance (UNU-IIST), foi criado por Dagusia Janowski, que trabalha em Londres
como “graphics designer”. A sua execução foi descrita da forma seguinte: “The texture in the left top
quadrant was obtained after hours of throwing blue paint on the paper with a
toothbrush, then scanning the result. Likewise, the textures in the right top
and right bottom quadrants were obtained after hours of scratching metal with a
screwdriver, then scanning the result.” A arte necessita sempre de inspiração e
trabalho, e este resultado é particularmente bem sucedido.
O outro, recebido dum casal de primos, que
enviaram pelo correio um cartão feito por eles próprios, bem escrito e
ilustrado à mão. São ambos médicos e católicos, que
praticam na profissão e na fé o que muitos pregam e poucos fazem. Dedicaram a vida
a missões de assistência médica nas regiões mais desfavorecidas do interior e
na recuperação de tóxico-dependentes. Desinteressados de aparências e
consumismos desnecessários. Depois de tantos anos nas rotas do mundo, é bom ter
a família outra vez por perto.
Votos dum bom ano novo.
JSR
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