Vivemos em universos paralelos.
Último exemplo:
- Os palestinianos do Hamas,
na Faixa de Gaza, incomodam as populações do sul de Israel com o envio
constante de mísseis, provocando poucas vítimas e muita apreensão devido à insegurança.
- Os israelitas ripostam
sempre, bombardeando progressivamente grande parte da infra-estrutura militar e
governamental do Hamas, eliminando pontualmente chefes e militantes, com muitas
vítimas civis.
- Como o Hamas não pára de
enviar os mísseis, o governo de Israel decreta a mobilização e ameaça invadir o
território da Faixa de Gaza.
- As Nações Unidas, os USA e o
Egipto, conseguem finalmente, após muitas conversações, impor um cessar fogo.
- Os palestinianos do Hamas celebram
o cessar fogo como uma grande vitória.
- Os israelitas respiram de
alívio por não precisarem de arriscar os seus soldados no vespeiro do Hamas.
- Todos os participantes sabem
que o cessar fogo é instável e temporário.
Conclusão: os palestinianos, que
estavam a levar uma grande coça, consideram o facto dos israelitas terem parado de lhes dar
pancada como uma vitória... Estranhos motivos e estranha mentalidade.
O Médio Oriente foi o lugar
onde a humanidade evoluiu de bandos nómadas a comunidades agrícolas, mas
algures durante a história subsequente naquela parte do mundo perderam a noção
da realidade. Tudo o que é bom é de origem sobrenatural, tudo o que é mau é
culpa dos outros: do vizinho da frente, da tribo do lado, do expansionismo do
país de cima, da seita predominante no emirato de baixo.
Todas as desculpas servem para
não aceitarem as responsabilidades, individuais e colectivas, do seu próprio
atraso e suas consequências. Para a maioria, são a ignorância, a pobreza e a
dependência. Para os poucos que vivem das rendas do petróleo, são o esbanjamento,
as sinecuras e o financiamento de grupos terroristas. Uns e outros terão amanhãs de enormes
dificuldades.
A convivência internacional é
muito difícil, mesmo dentro do universo das democracias ocidentais. É frustrante
negociar com o universo das quadrilhas de bandidos que se apropriaram do governo
de vários países do mundo. Mas é quase impossível prever o que move os povos dos universos distorcidos, onde são insensíveis aos
argumentos da lógica e da razão, mesmo no seu próprio interesse.
Como podem estes diferentes
universos comunicar? Mal. Quantas vezes, em longas negociações internacionais,
a irritação leva a que se deseje que os respectivos deuses, profetas e mestres
doutrinários, os ajudem, ou então o diabo que os carregue. Porque o diabo é com
certeza comum a todos os universos. O primeiro a quem isso não aconteceu que
atire a primeira pedra.
JSR
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