Uma parte da classe política
portuguesa vive, ou está a atravessar, um estado de negação. As receitas do
estado estão a diminuir e as protecções sociais também. As fantasias de
prosperidade (a crédito) chocaram contra o muro da realidade (ter que pagar as
dívidas) e os mitómanos refugiam-se na lamentação das dificuldades e na fé
irracional em paraísos perdidos. Muito do que dizem seria desejável, se fosse
possível.
As “boas almas” têm excelentes
intenções, mas por mais que dancem em redor das fogueiras metafóricas, os
deuses só ajudam quem se ajuda a si próprio. E todos querem ajudar-se
politicamente, ao mesmo tempo que querem mostrar como são boas almas sociais, esquecendo-se
da necessidade de assegurar o bem público final.
Os socialistas, na esteira dum
xamã em fase tão avançada de confusão mental que já nem se lembra do que fez e
disse num aperto nacional semelhante há cerca de trinta anos, querem voltar ao
poder e para isso dizem tudo o que possa agradar à populaça. Promessas que
nunca poderão ser cumpridas, mas que são veiculadas por media complacentes e
acríticos. Mas se voltassem ao poder, voltariam a fazer o que fizerem antes e
que não pode ser muito diferente do estão a fazer os que lá estão agora.
Os comunistas enquistaram num
“paraíso” dos trabalhadores, supostamente igualitário e já desacreditado, que orquestrou
os maiores massacres da história, arruinou a União Soviética, permitiu o
desenvolvimento duma aristocracia dos quadros do regime que se tornaram hoje
numa cleptocracia de capitalismo selvagem. O mesmo aconteceu na China, onde a
oligarquia do Partido único nem se deu ao trabalho de mudar de sigla, apenas
usando o C de comunista como capitalista e enriquecendo à custa da exploração
do povo.
Os bloquistas de esquerda incluem
alguns espertos recalcitrantes, mais uns populistas irresponsáveis e outros
maoistas retardados. Cumprem criteriosamente os seus papéis de inquisidores
irritantes, para que os governantes não se acomodem no conforto dos palácios do
estado.
Mesmo os companheiros
ideológicos dos partidos no poder exibem publicamente as suas rabugices, sejam
primas donas respeitáveis ou apenas membros duma geração cujo tempo já passou,
sem que se apercebam ou aceitem o facto.
Num pequeno lago, até as
percas podem parecer tubarões. Muito barulho, muita discussão e realmente para
quase nada, sem grande importância. Do que se passa, do que se discute, do que
se faz com verdadeira consequência, aparecem poucas notícias e menções de
passagem. O triunfo da emoção sobre a substância.
Os herdeiros de Abril de 74,
adoptaram uma constituição e outras leis, em geral bem intencionadas,
descrevendo como se devia organizar uma nação ideal, democrática, igualitária,
redistributiva e solidária. Arrumaram os poderes do estado, executivo, legislativo
e judicial, duma forma sobreposta e confusa. Esqueceram-se, muitos até aos dias
de hoje, duma parte essencial: a nação tem que ser economicamente viável. Por
isso a constituição e muitas leis, de tão utópicas e detalhadas, tornaram-se
caducas e um estorvo. Precisam de ser revistas, quando a maioria suficiente dos
deputados conseguir perceber a boa ordem por que se devem fazer as coisas e
legislar em consequência.
JSR
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