Sunday, November 4, 2012

130 - Desânimos

É difícil viver num país em crise, no meio das dificuldades crescentes de muitos e das lamentações pomposas de alguns. Não há grande coisa de útil a comentar, quando o que se passa na espuma dos dias é largamente previsível e quando é mais eficaz agir com discrição do que especular com alarido.
As pessoas mais frágeis sofrem com o empobrecimento geral, enquanto os aproveitadores políticos, os exibicionistas mediáticos e os profissionais da agitação social, fazem, dizem e escrevem todas as enormidades que possam agradar às “massas”, às audiências angustiadas pelas dificuldades e mal informadas sobre a situação real do país.
A austeridade está para ficar. As utopias também.
O estado não pode gastar mais do que aquilo que recebe em impostos, de todos aqueles que podem pagar. Só uma mentalidade de escravos medievais, de servos da gleba, não compreende esta realidade simples. Continuam a proclamar que “eles”, os donos, os senhores, os governantes, só não distribuem riqueza a todos os que precisam porque não querem. Uma “árvore das patacas” escondida pela cabala dos poderosos. E ainda há quem acredite, resultado de muitos séculos de fé obrigatória, do “creio num Deus todo poderoso” e por consequência na capacidade de intervenção sobrenatural dos seus mensageiros.
Mas que alguns dos “senhores” são uns malandros, é o mínimo que se possa dizer. Uns quantos deslumbrados saídos dos aviários de jovens trepadores partidários, são por vezes apanhados em falcatruas financeiras, na corrupção da troca de favores, no abuso das funções do estado. Que nos prejudica a todos e muitos temos que pagar. Mas a justiça não funciona, as leis são escritas e aprovadas pelos mesmos que depois as usam para protelar indefinidamente qualquer decisão que prejudique os seus interesses. Assim dão mau nome a toda a classe política, de tal forma que o povo acaba por esquecer que a classe dirigente é composta também de gente competente, honesta e dedicada ao bem público, vinda de todos os quadrantes de opinião.
Esperamos ver a luz no fim do túnel, desde que o túnel tenha um fim próximo e no fim haja luz. Mas isso não depende nem só de nós, nem só de quem nos governa. E, francamente, de quem isso depende, na Europa e na América, a julgar pelo passado recente, não merecem grande confiança na capacidade de tomar decisões ousadas e em tempo útil.
JSR 

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