Icarus - Henri Matisse |
O Banco Central Europeu acaba
de anunciar que vai voltar aos mercados para comprar obrigações da dívida
soberana dos países em dificuldades na Zona Euro. Sem limites, porque o Euro é
irreversível. Desde que esses países tenham assinado um acordo de ajustamento
fiscal e enquanto estiverem a cumprir as suas condições. O que vai incitar a
Espanha e a Itália a estabelecerem esses acordos, ajudará a Irlanda e Portugal
a voltarem aos mercados e lança a última bóia de salvação à Grécia para cumprir
o seu memorando de entendimento com a troika.
Uma boa notícia, mas sem
interesse imediato para Portugal, excepto para alguns "desperados" político-sindicais que fazem fogo de toda a lenha: “Foi
o que eu sempre disse”, “não é preciso mais austeridade”, “queremos aumento de
salários”... Com todo o respeito pelas ambições de uns e pelas reais
necessidades dos outros, será que perceberam alguma coisa do que se passa?
Na maioria das conversas em
Portugal, a pergunta que aparece mais cedo ou mais tarde, é: “Quando é que
vamos sair da crise?”. Esta pergunta significa realmente: Quando é que
ultrapassamos as dificuldades presentes e voltamos a viver como antes da crise,
ou de preferência, melhor.
A resposta mais sincera é que
este país não vai sair da crise tão depressa, não se vai voltar a viver como
nos últimos anos antes da crise, nem melhor. Nunca mais nas nossas vidas, nem
provavelmente nas vidas dos nossos filhos.
Meta dos 4.5% de défice este
ano, meta dos 3% para o ano, memorando da troika ou memorando do governo, são
tudo jogos de espelhos, manobras de passe-passe com pouco interesse. São os
meios e não os fins, porque a austeridade tem como objectivo reduzir o país à
sua capacidade real, a gastar apenas dentro dos seus rendimentos.
Depois de anos a viver a
crédito, vai ser difícil empobrecer dentro da Zona Euro. Mas seria muito pior
fora do Euro, como nos anos 80 do século passado, com uma inflação galopante
que reduzia todos os dias o poder de compra dos salários. Salários nominalmente
estáveis, para enganar os papalvos. O Euro obriga a salários proporcionais à
produtividade, serviços e administrações do Estado de custo proporcional à
colecta dos impostos, representantes políticos reduzidos no seu número e no seu
custo às necessidades indispensáveis. Governos menos ideológicos e mais
técnicos. O Parlamento com menos deputados e menos palração inútil para a
galeria televisiva. Menos mordomias como despojos do poder. Ver os exemplos dos
países do Norte de tamanho similar ao nosso e por boas razões com maiores
economias. Frugalidade é agora a chave da sobrevivência.
Portugal não tem capacidade,
não tem economia que possa crescer o suficiente para pagar as dívidas que tem e
os juros acumulados, nem agora nem em tempo útil, ponto final. A saída da crise
mundial não vai acontecer tão cedo e as consequências vão ser tais que ninguém
se atreve a encará-las de frente.
As reformas estruturais acordadas
no memorando de entendimento com os credores, destinam-se a martelar a
realidade nas cabeças irracionais de muitos dos dirigentes e dirigidos, cheias
de utopias ideológicas e de fantasias de outros tempos, um largo espectro
transversal à sociedade, que vai de antigos presidentes senis a juventudes
ignorantes. São profundas reformas no aparelho e nos serviços do Estado, a
privatização dos monstros públicos deficitários, menos corrupção e menos
negociatas à custa dos contribuintes.
A União Europeia não mudou as
características essenciais das nações que a compõem. Os países que pagam os
desvarios comunitários, como a Alemanha, querem uma união fiscal e política que
permita governar colegialmente os países que não se sabem governar no longo
termo, para terem a certeza que os empréstimos de hoje não caiem num poço sem
fundo. Outros, como a França, querem
tudo em troca de nada, querem que a Europa subsidie os seus agricultores, mas
não querem prestar contas a quem paga os seus delírios populistas. Outros
ainda, como a Itália, fazem parte dos ingovernáveis com economias viáveis.
Depois, há todos os outros, os que esperam sobreviver à sombra do novo império
europeu.
Com uma reestruturação
substancial da dívida (um perdão parcial, como já foi feito com a Grécia), mas
só quando as contas estiverem equilibradas e as reformas implementadas, talvez
o país se salve e a economia volte a crescer. Será a única forma de evitar uma
agonia lenta com a grilheta dos pagamentos da dívida, ou então que as amarras
ao cais europeu se quebrem e Portugal tenha que partir numa deriva de todos os
riscos.
JSR
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