Foi em Cascais, na pequena
esplanada que há agora diante da geladaria Santini. Depois de ter dado um volta
pela livraria Galileu, que me faz sempre lembrar a Shakespeare and Company (embora
as semelhanças sejam poucas) um dos meus hang-outs favoritos durante os muitos
anos que vivi em Paris, decidi sentar-me à espera da família que estava na fila
habitual para comprar gelados.
Na mesa ao lado estava uma
senhora ainda nova, com a pose típica “da linha”, a brincar com o telefone.
Distraído a ver a rapidez com que a fila aumentava e a fauna que a compunha, as
famílias de volta do passeio pela baixa depois do jantar, os grupos de jovens
entre o McDonald’s e as discotecas, de repente oiço:
- O que estás aqui a fazer?
Olhei, era a senhora que
falava com um rapazote dos seus doze, treze anos, que se tinha sentado à sua
frente.
- Estou farto de estar na
bicha.
- E deixaste o pai sozinho? Como
é que ele consegue trazer três gelados?
- Ele desenrasca-se.
- Estás parvo? Volta já para o
pé dele!
- Não vou.
- Estou a dizer-te para
voltares imediatamente para junto do pai!
- Não vou.
E estavam nisto quando o pai
chegou com os gelados, equilibrado os três nas mãos e os distribuiu. Um tipo
grandalhão, género São Bernardo ou cão Serra da Estrela.
- Já me pinguei todo.
- Oh pai, mas não era isto que
eu queria!
- Han? Desculpa, devo-me ter
enganado...
Não me pude impedir de me
virar para eles de repente: Será que ouvi bem? Se no lugar daquela mãe
estivesse a mãe dos meus filhos, o fedelho tinha saltado da mesa para ir ter
com o pai, com as orelhas a arder do raspanete, logo após a primeira resposta
malcriada. Com “o pai dos meus filhos” o problema nem se punha, porque se o
rapaz queria um gelado ou ele estava na bicha ou não havia gelado nenhum. Para
já não falar “do avô dos meus filhos”, que esse, enfim, teria enfiado o gelado
“que não era o que o rapaz queria” imediatamente no caixote do lixo e ponto
final na conversa.
Se é assim que a burguesia
educa (?) agora os seus rebentos, estamos realmente perdidos.
JSR
Tio, como constatou as"familias do hoje" educam de tal maneira que os filhos aos 2 anos de idade já são capazes de decidir...o que verificou nesta situação, é que este rapazote com 13 anos tem esta atitude só e porque estes pais, desde tenra idade da criança, tiveram uma atitude permissiva, situação que conduz à tal falta de respeito pelos pais e que provoca mau estar a quem observa e tem de conviver com este(s) joven(s)! Sandra Travassos
ReplyDeleteSandra, obrigado pelo comentário, que tem tanto mais valor quando vem de alguém que conhece bem o assunto desde o princípio. Diz-se que "é de pequenino que se torce o pepino", não é?
ReplyDelete