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Passou a primeira metade do
ano e, nas organizações internacionais públicas e privadas, começam a ser
preparados os relatórios sobre o estado do mundo para serem publicados em
Dezembro.
O mundo vai mal, acima de tudo
porque abrandaram os motores económicos e políticos do Ocidente. O dinheiro é o
nervo da guerra e quando o dinheiro falta acabam-se as pretensões de hegemonia,
como aconteceu recentemente com a implosão da União Soviética, está a acontecer
na Europa desde o desmantelamento dos impérios coloniais e já se anuncia nos
Estados Unidos como consequência do acumular duma dívida gigantesca. Por outro
lado, os países emergentes aproveitam o esbanjamento dos países ricos e o vazio
nas suas zonas de influência, para se dotar dos meios de projecção militar e
reivindicar direitos a zonas de interesse económico.
O cerne do problema é a perda
de vitalidade das potências ocidentais. Mais na Europa que nos Estados Unidos,
devido a gerações habituadas a todos os direitos e nenhuns deveres, à descida
da natalidade, ao multiculturalismo da emigração que destrói a solidariedade de
sociedades anteriormente homogéneas. Ao contrário, os Estados Unidos nunca
foram uma nação homogénea, por isso a solidariedade social europeia é vista
como socialismo ou comunismo e o descalabro europeu é apresentado como
espantalho contra a tentativa do
Presidente de implementar uma tímida e limitada segurança social. A maioria dos
americanos está de acordo que quem não trabalhar não come e quem não juntou
dinheiro a tempo para se tratar na doença, morre, a menos que recorra às
diferentes “caridades”.
O Ocidente desenvolvido está
em crise. Crise económica, crise política, crise social, crise cultural, crise de
tudo. Em resumo, crise duma civilização europeia dominante e cuja vertente
americana esteve em expansão desde a última grande guerra. A qual começou por
ser uma guerra civil europeia e se
tornou na primeira guerra verdadeiramente mundial.
Se a consciência da
globalização começou nos povos europeus com as grandes viagens de descoberta e
de comercio, foram as invasões, as batalhas, as independências e todas as
outras consequências desse grande conflito, que levaram aos povos mais remotos a
cultura popular americana e a certeza de que nada nem ninguém está a salvo do
que se passa no resto do mundo.
A expansão económica está em
progressivo abrandamento. Chegou um tempo de vacas magras, que naturalmente
afecta a todos. Nuns países porque temem tempos ainda piores e diminuem o
consumo e os investimentos. Noutros porque gastaram demais e agora têm que
pagar as dívidas acumuladas nos tempos de insensatez.
O motor principal nos Estados
Unidos gripou devido à falta de controle do carburante financeiro no sistema
central, à economia que se desgastou em consequência das pequenas guerras
sucessivas com os bárbaros na periferia do seu império, à desindustrialização,
à dependência da importação de produtos feitos por mão de obra mais barata e a outras
degenerescências.
A associação dos maiores
motores secundários na Europa desafinou e nenhum mecânico parece capaz de
restabelecer a sintonia. Os seus membros de boa saúde económica não querem
arriscar o contágio por associação, das diferentes maleitas acumuladas pelos
seus parceiros mal governados, sem que estes últimos se sujeitem a uma
supervisão central da União, ou seja, ao avançar da união económica e política.
Para que esta sobreviva, é precisa a decisão política de estabelecer um governo
e/ou entidades centrais que administre(m) os países em situação de falência
económica como protectorados, durante o tempo que for preciso.
Com os problemas americanos e
europeus, a crise está a chegar à China, à Índia e a outros lugares que são os
novos subúrbios proletários dos países ricos, origem duma grande parte das
importações e compradores das notas de dívida consequentes. Uma simbiose
imperfeita, que se está também a esgotar, com consequências negativas para
todos.
Para os produtores de energia
e matérias primas, com as flutuações da procura. Mesmo os nababos a quem, na
grande partição em fatias dos antigos impérios coloniais, saiu a sorte grande
de ficarem com subsolos ricos em petróleo ou outras fontes de riqueza
preguiçosa, têm agora que enfrentar a revolta dos descontentes locais ou dos
descamisados vizinhos.
Para os países dependentes de
subsídios humanitários, de rendas de chantagem geográfica, de apoios de
conveniência política e de pagamentos de interesse estratégico, porque há menos
generosidade e mais relutância em aceitar despesas que não sejam essenciais.
Mas nem todas as dietas são
más, embora isto não se aplique a quem não tem sequer o suficiente ou morra de
fome. Esta cura de emagrecimento pode ser o equivalente moralizador das Páscoas,
Ramadão e outros períodos de jejuns rituais impostos pela maioria das
religiões. Em tempos antigos, purgavam acumulações de gorduras e parasitas de
todos os membros das comunidades. Agora, já só atingem aqueles que não se podem
escapar para paraísos fiscais. A esperança é que a maioria sobreviva mais
escorreita e saudável.
JSR
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