Sunday, July 15, 2012

114 - O Estado do Mundo: O Tempo das Vacas Magras

Ice Sunflower
Passou a primeira metade do ano e, nas organizações internacionais públicas e privadas, começam a ser preparados os relatórios sobre o estado do mundo para serem publicados em Dezembro.
O mundo vai mal, acima de tudo porque abrandaram os motores económicos e políticos do Ocidente. O dinheiro é o nervo da guerra e quando o dinheiro falta acabam-se as pretensões de hegemonia, como aconteceu recentemente com a implosão da União Soviética, está a acontecer na Europa desde o desmantelamento dos impérios coloniais e já se anuncia nos Estados Unidos como consequência do acumular duma dívida gigantesca. Por outro lado, os países emergentes aproveitam o esbanjamento dos países ricos e o vazio nas suas zonas de influência, para se dotar dos meios de projecção militar e reivindicar direitos a zonas de interesse económico.
O cerne do problema é a perda de vitalidade das potências ocidentais. Mais na Europa que nos Estados Unidos, devido a gerações habituadas a todos os direitos e nenhuns deveres, à descida da natalidade, ao multiculturalismo da emigração que destrói a solidariedade de sociedades anteriormente homogéneas. Ao contrário, os Estados Unidos nunca foram uma nação homogénea, por isso a solidariedade social europeia é vista como socialismo ou comunismo e o descalabro europeu é apresentado como espantalho contra a tentativa  do Presidente de implementar uma tímida e limitada segurança social. A maioria dos americanos está de acordo que quem não trabalhar não come e quem não juntou dinheiro a tempo para se tratar na doença, morre, a menos que recorra às diferentes “caridades”.
O Ocidente desenvolvido está em crise. Crise económica, crise política, crise social, crise cultural, crise de tudo. Em resumo, crise duma civilização europeia dominante e cuja vertente americana esteve em expansão desde a última grande guerra. A qual começou por ser uma guerra  civil europeia e se tornou na primeira guerra verdadeiramente mundial.
Se a consciência da globalização começou nos povos europeus com as grandes viagens de descoberta e de comercio, foram as invasões, as batalhas, as independências e todas as outras consequências desse grande conflito, que levaram aos povos mais remotos a cultura popular americana e a certeza de que nada nem ninguém está a salvo do que se passa no resto do mundo.
A expansão económica está em progressivo abrandamento. Chegou um tempo de vacas magras, que naturalmente afecta a todos. Nuns países porque temem tempos ainda piores e diminuem o consumo e os investimentos. Noutros porque gastaram demais e agora têm que pagar as dívidas acumuladas nos tempos de insensatez.
O motor principal nos Estados Unidos gripou devido à falta de controle do carburante financeiro no sistema central, à economia que se desgastou em consequência das pequenas guerras sucessivas com os bárbaros na periferia do seu império, à desindustrialização, à dependência da importação de produtos feitos por mão de obra mais barata e a outras degenerescências.
A associação dos maiores motores secundários na Europa desafinou e nenhum mecânico parece capaz de restabelecer a sintonia. Os seus membros de boa saúde económica não querem arriscar o contágio por associação, das diferentes maleitas acumuladas pelos seus parceiros mal governados, sem que estes últimos se sujeitem a uma supervisão central da União, ou seja, ao avançar da união económica e política. Para que esta sobreviva, é precisa a decisão política de estabelecer um governo e/ou entidades centrais que administre(m) os países em situação de falência económica como protectorados, durante o tempo que for preciso.
Com os problemas americanos e europeus, a crise está a chegar à China, à Índia e a outros lugares que são os novos subúrbios proletários dos países ricos, origem duma grande parte das importações e compradores das notas de dívida consequentes. Uma simbiose imperfeita, que se está também a esgotar, com consequências negativas para todos.
Para os produtores de energia e matérias primas, com as flutuações da procura. Mesmo os nababos a quem, na grande partição em fatias dos antigos impérios coloniais, saiu a sorte grande de ficarem com subsolos ricos em petróleo ou outras fontes de riqueza preguiçosa, têm agora que enfrentar a revolta dos descontentes locais ou dos descamisados vizinhos.
Para os países dependentes de subsídios humanitários, de rendas de chantagem geográfica, de apoios de conveniência política e de pagamentos de interesse estratégico, porque há menos generosidade e mais relutância em aceitar despesas que não sejam essenciais.
Mas nem todas as dietas são más, embora isto não se aplique a quem não tem sequer o suficiente ou morra de fome. Esta cura de emagrecimento pode ser o equivalente moralizador das Páscoas, Ramadão e outros períodos de jejuns rituais impostos pela maioria das religiões. Em tempos antigos, purgavam acumulações de gorduras e parasitas de todos os membros das comunidades. Agora, já só atingem aqueles que não se podem escapar para paraísos fiscais. A esperança é que a maioria sobreviva mais escorreita e saudável.
JSR    

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