3 - A função espaço/tempo da nacionalidade portuguesa...
Quase doze anos depois do teu
nascimento, conseguiste finalmente a nacionalidade portuguesa. Parabéns.
Primeira barreira a saltar, o
Consulado em Los Angeles descartou-se de tratar da inscrição do nascimento, aconselhou
antes a tratar do assunto durante a próxima visita a Portugal, caso contrário
iria demorar uma eternidade. Tratado em Portugal demorou também “uma
eternidade”. Como as eternidades não se medem, ficaremos ser saber qual seria a
mais longa.
Segunda barreira, a
Conservatória do Registo Civil onde o teu pai foi registado em Lisboa. Durante
anos, faltava sempre alguma coisa na papelada necessária: certidões de
nascimento do pai e mãe, certidão de casamento (nos USA), certidão americana do
teu nascimento. Traduções certificadas e respeito pelos prazos de caducidade.
Oops, o nome de solteira da tua mãe não é igual ao nome de casada das outras
certidões. Bom, no casamento adoptou o nome de família do teu pai. Simples,
não? Não. O que aconteceu ao nome de solteira? Explicações, mais papéis, mais
anos após anos de idas a repartições e esperas.
Até que um dia, uma
intervenção do Espírito Santo (o dos milagres, não o banqueiro português, o que
não quer dizer que o banqueiro também não faça milagres...) e lá apareceu um
papel a dizer que a passagem da certidão de nascimento tinha finalmente acontecido.
Fui buscar a certidão a Lisboa, com tempo de sobra para ir ao café e ler um
jornal entre o momento de tirar a senha e chegar a minha vez de ser atendido.
Passaram mais uns anos e finalmente
fizemos umas excursões familiares à Conservatória de Cascais para pedir os teus
Cartão de Cidadão e Passaporte. Entretanto, tinha acontecido a informatização de
todo o processo, mais a crise e a austeridade a aguçarem o engenho de
justificarem o pagamento das taxas de urgência. Isto levou à emissão do cartão
e passaporte em pouco mais duma semana, com tempos de espera razoáveis. Admirável mundo novo, este em que a eficiência parece ter chegado
à administração pública.
Depois deste longo processo
ainda perguntaste o que vais fazer com estes novos documentos, depois de teres
viajado sem problemas até agora. Bom, a minha explicação deve ter-te parecido
dum nacionalismo ultrapassado. Espero que, para além dos motivos sentimentais, roots and everything, mais tarde
compreendas também a utilidade de teres um pé de cada lado do Atlântico,
sobretudo se continuar a existir uma União Europeia.
JSR
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