Neste blogue, dois posts de 2011, um de Janeiro (20 - The
Middle Ages of the Middle East) e outro de Fevereiro (24 - Egypt, Smoke and
Shadows), chamavam a atenção para os vários factores que permitiam prever que
os movimentos populares iriam propagar-se de país em país, mas que os
resultados seriam decepcionantes para as esperanças ocidentais e sobretudo para
os próprios participantes. A conclusão era que em nenhum desses países era
previsível o estabelecimento duma verdadeira democracia. No melhor dos casos haveria
pequenos passos tímidos, de cada vez com avanços e recuos, no pior dos casos a
descida ao caos, guerra, desespero e aumento das tentativas de emigração em
massa para a Europa. Entre os dois extremos, alguns países tomariam medidas
cosméticas para aquietar a populaça, mas tudo continuaria realmente na mesma.
Como as contas dum “tesbih”, os países da margem sul do
Mediterrâneo foram-se contagiando no entusiasmo de se verem livres de regimes
despóticos, com ajuntamentos e manifestações, guerras civis e mesmo
intervenções externas quando se trata de produtores de petróleo.
Esta região sofre dum tremendo atraso civilizacional, que
levará muitas gerações a ultrapassar. Os factores são variados: primeiro, uma
natalidade galopante, que por maior que fosse o progresso económico não
conseguiria dar trabalho a todos; segundo, um sistema educativo inadequado e
subordinado às crenças religiosas; terceiro, a metade feminina da população
continua a ser tratada como menor e apenas destinada a procriar e às tarefas
domésticas; quarto, a economia destes países reflecte o domínio de classes privilegiadas,
corruptas e atrasadas, que se apropriaram de todos os recursos dos estados; quinto,
nestas circunstancias a mobilidade social é praticamente inexistente a não ser
como resultado de golpes, revoluções ou guerras; sexto, a maioria da população
continua sem direitos, pobre, ignorante e sem esperança de melhoria.
Em todos os países islâmicos, árabes ou não, o poder está
com os chefes tradicionais e/ou a hierarquia religiosa, ambos apoiados numa
classe militar, ou directamente com os militares. Normalmente, são os militares
que supervisam os períodos de transição, como agora no Egipto, sem surpresas. A
tutela militar tem sempre custos muito elevados no desenvolvimento das
sociedades. Dependendo dos países, pode também ter algumas qualidades
temporárias, como aconteceu na Turquia com Mustafa Kemal, cujo regime
autoritário tentou superar séculos de superstição, desordem e decadência,
permitindo ao seu país aproximar-se mais tarde dum regime tendencialmente democrático
e duma sociedade em vias de modernização.
Os outros países islâmicos citam muito a Turquia como
exemplo, mas nunca o Irão, esquecendo tanto as diferenças que os separam dum,
como as similaridades que os aproximam do outro. Precisam de bom senso e boa
sorte (assim como da protecção de Allah, pois claro). Mas, como dizem os
cristãos desses países quando são atacados pelos extremistas fanáticos: “Fia-te
na Virgem e não corras...” e emigram todos os que podem. Porque, entretanto, do
que foi escrito acima pouco ou nada de estável mudou.
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