Windswept Old Olive Tree |
Published 5/07/2012 by "Jornal do Fundão".
A crise económica tem sido fértil em recriminações, algumas propostas de realismo duvidoso e tudo continua com mais do mesmo. Chegou o solstício de verão e nem as tradições milenárias de celebração do Sol e da fertilidade, conseguem trazer luz e inteligência aos responsáveis pelos destinos do mundo. Continuam a deixar-se arrastar pelos mesmos cantos, das mesmas sereias, responsáveis pelos mesmos desastres anteriores.
A crise económica tem sido fértil em recriminações, algumas propostas de realismo duvidoso e tudo continua com mais do mesmo. Chegou o solstício de verão e nem as tradições milenárias de celebração do Sol e da fertilidade, conseguem trazer luz e inteligência aos responsáveis pelos destinos do mundo. Continuam a deixar-se arrastar pelos mesmos cantos, das mesmas sereias, responsáveis pelos mesmos desastres anteriores.
As últimas reuniões, do G-7 ou
G-8 (ou mesmo “8 ½” como Fellini em crise de psicanálise...), do G-20 e dos vários
Conselhos da União Europeia, não produziram senão cantos de sereias a tentar
atrair os marinheiros dos mercados que, como na mitologia, acabam quase sempre
mal. Infelizmente, a Europa tem falta de Ulisses que saibam fazer pactos com os
seus companheiros para resistir aos cantos mortais. De vez em quando alguém tem
um ataque de lucidez, como Mário Monti que definiu bem os problemas e soluções a
nível europeu, mas é incapaz de governar e reformar o seu próprio país, ou
Durão Barroso que mete na ordem os países emergentes que presumem dar conselhos
à Europa, mas cuja autoridade é sabotada pela fragilidade política crescente da
chanceler alemã e pela “insustentável leveza do ser”, Kunderiana e populista, do
novo presidente francês.
O avanço das consequências da
crise na zona euro, de país em país, começando pelas pequenas economias mais
frágeis e prosseguindo pelas economias médias até chegar às maiores, era mais
do que previsível, era uma evolução anunciada. Que todas as barragens financeiras construídas na areia acabariam por ser submergidas pela subida das marés dos mercados, não é
surpresa nenhuma. Que os fundos disponibilizados teriam que ir aumentando e os
resgates seriam cada vez mais feitos por medida, é apenas a consequência do
peso relativo de cada economia.
Da Grécia para a Irlanda, para
Portugal, para Espanha, para Itália e em breve para França e Bélgica, era ou é,
apenas uma questão de tempo. Todos estes países têm problemas estruturais
graves em doses variáveis, sejam eles organizações bancárias de alto risco,
sistemas fiscais desequilibrados, estruturas produtivas obsoletas, legislação
social ultrapassada pelo aumento da esperança de vida e a baixa da natalidade, partidos
políticos corruptos e sindicatos autistas.
A Europa não se vai conseguir
fazer com líderes fracos nem com uma democracia fracturada por movimentos
irrealistas, xenófobos ou retrógrados. Sem qualquer contágio de chauvinismo e
da parte dum estrangeirado, a verdade é que neste momento a situação política
em Portugal é melhor do que a dos outros países europeus em dificuldades. O
maior partido da oposição assinou o acordo de resgate financeiro e tem mostrado
sentido de responsabilidade. Os partidos no governo não se desviam do programa
técnico de saneamento financeiro e de implementação das reformas possíveis. De
todas as maneiras são sempre os mais desfavorecidos que sofrem com os desvarios
anteriores e as dificuldades presentes, mas a capacidade e rapidez da
recuperação são mais prováveis e maiores quando quem governa usa a razão em vez
de ideologias.
Os responsáveis europeus, assim
como os portugueses, deviam ter em mente o que escreveu Reinhold Niebuhr, inspirado
nas “Confissões” de Agostinho de Hipona (Santo Agostinho): “God, give us grace to accept with serenity
the things that
cannot be changed, courage to change the things which should be changed, and
the wisdom to distinguish the one from the other”.
JSR
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