Assegurar o máximo de emprego num
dado momento e ao mesmo tempo promover o desenvolvimento económico, são por
vezes objectivos incompatíveis, como ilustra a história seguinte:
Há alguns anos, uma delegação
duma companhia multinacional foi discutir com as autoridades dum país do sub-continente
indiano os problemas ligados à utilização pelas administrações central e
estatais do país, dos computadores produzidos então por essa companhia. Os
problemas eram de duas ordens, na compra ou aluguer das máquinas e depois na sua
utilização.
Para a compra ou aluguer,
tanto o governo central como os dos estados, estavam absolutamente decididos a
adquirir e aumentar o número de equipamentos duma forma semelhante a outros países que eles
consideravam equivalentes, agora que estavam convencidos da sua utilidade. Mas estavam igualmente decididos a obter as maiores comissões que pudessem
extorquir. Pequeno ponto do folclore local, o representante do governo central
achava que tinha também direito a uma parte das comissões dos representantes
dos estados... Havia muito tempo que arengavam entre si sobre este assunto e
finalmente fizeram a pergunta directamente aos potenciais pagadores.
Foi com incredulidade e
condescendência que ouviram que era política da companhia não pagar nenhum tipo
de subornos. Sendo assim, responderam, não haveria mais licenças de importação,
não seriam pagos mais alugueres, cujo pagamento estava aliás muitíssimo atrasado,
e ponto final no assunto. Como consequência, a companhia saiu oficialmente do
país e passou a vender os equipamentos a um importador local.
No entanto, havia vários
computadores instalados e aos quais era dada assistência técnica. Estavam
também subutilizados, os projectos nunca mais avançavam, as enormes “mainframes”
eram na realidade objectos de propaganda e decoração. O ministro esclareceu: “Cada
uma dessas unidades pode fazer o trabalho de centenas ou milhares de pessoas,
mais depressa, com menos erros e dando uma visão geral da situação que nunca
tivemos antes. Isso permite melhor planeamento e melhor controle nas enormes
burocracias central e estatais, cuja lentidão, arbitrariedade e corrupção
impedem o desenvolvimento do país. Mas todas essas pessoas ganham o sustento
para as suas famílias e vamos ter que despedir uma grande parte. Uma melhor
administração permitiria também libertar o potencial da iniciativa privada,
mais e melhores empresas significam mais desenvolvimento e vão criar mais
emprego. Mas entretanto tenho nas mãos uma revolta dos partidos que vêm
reduzida a capacidade de distribuir empregos administrativos aos seus
apaniguados, de muitos outros interesses instalados, dos funcionários que vão
ser apanhados a pedir subornos e toda uma forma de vida profundamente enraizada.
Como é que resolvo estes problemas?”
Na realidade, passaram os anos
e eles nunca os resolveram, mesmo com todos os computadores que instalaram
desde então. Foi a iniciativa privada que frequentemente conseguiu ultrapassar
os múltiplos entraves e desenvolver algumas das maiores empresas do mundo e
algumas indústrias tecnológicas de ponta. Embora o país continue
subdesenvolvido.
Esta história é absolutamente
verdadeira em todos os seus aspectos, embora reduzida aos pontos essenciais.
Parece familiar? Pois parece, porque é mesmo semelhante ao dilema enfrentado
agora por alguns países europeus, incluindo o nosso.
Felizmente, nós temos alguns
trunfos que nos permitem ter esperança a mais curto prazo: não temos uma
demografia galopante, pelo contrário; o país é reformável porque tem um governo
pragmático, o maior partido da oposição é incómodo para se afirmar como
alternativa, mas está consciente das suas responsabilidades; as esquerdas e as
direitas irracionais fazem o seu papel de recalcitrantes obtusos ou dinossáurios
em vias de extinção, mas duma forma civilizada; todos os eleitores compreendem
que é preciso aproveitar a oportunidade da crise para reformar o aparelho do
estado e limitar a impunidade dos aproveitadores e parasitas; a economia
emagrece mas pode sair destes apertos mais robusta e saudável.
Infelizmente, alguns tsunamis
virão dar às nossas costas e fronteiras, o mapa da Europa sofrerá os acertos indispensáveis
enquanto a maioria dos países não aceitarem que só a implementação rápida da
união fiscal, económica e política, poderá ajudar cada um a resistir à
competição global. Porque essa, sim, vai ser cada vez pior.
O desemprego é insuportável, mas mesmo o insuportável e
injusto acontecem e temos que sobreviver. Desde que haja esperança que o
desenvolvimento traga dias melhores.
JSR
No comments:
Post a Comment