The Hypocrite |
É tão fácil dizer o que os
outros querem ouvir, ser popular a cavalgar a mesma onda. É tão útil escrever
sobre as indignações gerais, assim se vendem crónicas e livros. É tão bom fazer
como os outros fazem, balir com os carneiros. Até se pode ganhar eleições.
Mesmo quando se declinam apenas as demagogias hipócritas de que os media andam
cheios, como nos exemplos seguintes:
Coitadinhos dos Gregos
A Directora Executiva do FMI
disse dos gregos que, em vez de fazerem chantagens contraproducentes com a União
Europeia, se querem salvar o país é a altura de todos começarem a pagar os
impostos. Grande emoção entre as boas almas solidárias com todas as grandes causas
morais.
Coitadinhos dos Gregos?
Errado. Coitados dos 30% de gregos que pagam impostos. Do lado de cima, os oligarcas
nunca pagaram impostos, nem deixam dinheiro nos Bancos gregos. Ao lado, há a
economia paralela que vive ou sobrevive de expedientes, anda desaparecida dos
radares públicos e esvazia as suas contas bancárias o mais depressa que pode.
Em baixo, estão os pobres e os subsidiados que têm cada vez menos e vivem cada
vez pior, porque o país tem os cofres vazios. Ficam os 30% de duplamente
explorados, uma minoria do eleitorado. Os 70% que não pagam
impostos são a maioria que elege os governos. Não admira que o país seja ingovernável e
esteja falido.
Engasgados com salários
altos
Quando os portugueses emigram
para conseguir uma vida melhor, seja a que nível for, sabem que voltar é uma
estupidez. Muitos voltam porque não conseguem evitar preocuparem-se com os que
deixaram, por um sentimento atávico de raízes e pertença a uma comunidade, ou pela
responsabilidade de manter um património material e cultural.
Os que ficaram ressentem sempre
todas as diferenças. Se for um pedreiro, é porque construiu uma casa estilo “maison”
na sua terrinha de origem e tem uma reforma melhor que a dos outros, o que lhe
permite pagar uns copos aos amigos. Se for um alto quadro internacional, é
porque os salários ou as reformas são obscenos em relação à mediocridade do país.
Por isso a maioria já não volta, não está para aturar imbecilidades dos mesmos
que depois se apercebem que mataram a galinha dos ovos de ouro. Porque voltam
cada vez menos, tanto o dinheiro como os empreendedores e profissionais capazes.
Quem querem que discuta com a
troika, profissionais com o mesmo nível de competência e experiência, ou o “Zéquinha
dos Anjos”, muito popular na sua juventude partidária? Porque é que as PPPs
(Parcerias Público-Privadas) foram um desastre para os contribuintes e a sorte
grande para as empresas construtoras? Porque as empresas pagaram a especialistas
e advogados competentes para defenderem os seus interesses, enquanto os
interesses do Estado estavam a cargo de gente mal paga, sem experiência e que
ambicionava passar para o outro lado da mesa. Como muitos passaram, em
recompensa dos serviços prestados, com as consequências a reflectirem-se nos
impostos de todos, enfim, de todos aqueles que os pagam...
O problema nunca são os salários
altos de quem os merece, nem que os tablóides vendam mais uma história mal
contada, nem que um bonzo se engasgue. O problema são os salários baixos de
muitos, como consequência do favoritismo, da corrupção e do enriquecimento ilícito
de alguns. Mas isso não parece engasgar ninguém. O problema é que isso possa desincentivar os
melhores de ficar ou a voltar. Porque é preciso que esses fiquem ou voltem, para que ganhem todo o dinheiro que puderem com
os seus talentos, criem emprego para quem saiba fazer alguma coisa de útil e
mandem os “velhos do Restelo” de volta às cavernas donde saíram.
As cobaias da Casa Pia
Crianças americanas e
portuguesas (estas da Casa Pia), foram usadas em testes para verificar a
toxicidade do mercúrio na amalgama usada nessa época para “chumbar” os dentes
cariados. Clamor dos comentadores, coitados dos miúdos da Casa Pia, usados como
cobaias, tudo o que é mau lhes tem acontecido. É verdade, mas não por isto. Os
miúdos não tinham acesso a tratamentos dentários, como uma grande parte da
população portuguesa não tinha naquela época. Os dentes dos miúdos foram
chumbados com a mesma amálgama usada por todos os dentistas para quem tinha
meios de lhes pagar. Coitadinhos dos miúdos da Casa Pia, ou coitados de quem
tem que aturar estes comentários aselhas?
Já agora, os resultados do
estudo indicaram que não havia consequências negativas ao fim do período
estudado. Na realidade, hoje sabe-se que as consequências más aparecem muito
mais tarde, mas aparecem para todos, os que pagaram e os que participaram no
estudo. Como em todas coisas, faz-se o melhor que se pode com os conhecimentos
e as possibilidades de cada época.
Onde é que está o problema nisto tudo?
Nos neurónios mal conectados dos papagaios sem lógica e sem razão.
JSR
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