The Conspirators - Aldous Eveleigh |
Afinal, alguns destes anjinhos
no governo tinham vendido as almas ao diabo. Como já o tinham feito os da
fornada anterior, despedida nas últimas eleições. As almas vendidas
discretamente aos vários diabos que os fizeram, que os sustentam, que os
informam, que lhes dão ordens e que lhes cobram os serviços com juros de usura.
Os diabos que traçam no chão à sua volta a linha dos limites a não ultrapassar
e dos interesses a não descurar.
Até que o primeiro anjo
tropeça na língua uma vez, e depois outra, perde o equilíbrio e o pé, entra em
queda cada vez mais acelerada e acaba por arrastar os outros anjos todos. Na queda
vão os outros falsos anjos e mesmo os anjos verdadeiros que se deixaram prender
na engrenagem, que não têm culpa nenhuma e até estão a dar o seu melhor dentro
das suas capacidades. Mas os falsos anjos das incubadoras partidárias acabam
sempre por tropeçar na língua ou pisar o rabo dum gato escondido, são apanhados
por pequenas coisas que poderiam facilmente evitar. Mas não conseguem, porque
os “parvenus” morrem pelo pecado de arrogância.
Quando e onde é que já
soubemos anteriormente destas conspirações de capa e espada, com sociedades
secretas, guerras de espiões, grupos mafiosos disfarçados de empresas
legítimas, aspirantes políticos comprometidos com uns e com outros, lutas pelo
controle dos meios de comunicação, apropriação das instituições financeiras e
da economia, a tomada de assalto de partidos políticos e finalmente do governo
dum país? Por vezes mesmo guerras civis ou guerras entre países?
Estas conspirações repetem-se
vezes sem conta ao longo da história e por todo o lado. Se reduzirmos o âmbito
apenas às épocas mais recentes e às democracias de matriz ocidental onde o
respeito pelas leis é suposto ser a base da vida social, mesmo assim temos o
embaraço da escolha. Todos estes países e até o Vaticano têm esqueletos sem
conta nos armários dos palácios do estado e grandes parangonas recentes nos
jornais.
Mas nem todos são iguais. As
diferenças estão na forma como as conspirações são descobertas, no tratamento,
celeridade e consequências judiciais, assim como nas sequelas políticas.
Em alguns países a descoberta
é feita pelos meios de controle e nos prazos previstos pelos estados de direito
para esse efeito: Tribunais de Contas, auditorias, inspecções, polícias, etc. A
justiça funciona em tempo útil com o desmantelamento das associações de
malfeitores, a falência das empresas ilegais, e a condenação dos culpados a
multas substanciais e penas de prisão efectiva. A factura política é paga a
tempo com demissões ou perdas de mandatos. As mais recentes falcatruas de
fundos de investimento, bancos e sociedades financeiras nos Estados Unidos,
assim como as escutas telefónicas feitas por tablóides em conluio com membros
do governo no Reino Unido, tiveram já e parcialmente, essas consequências.
Noutros países a descoberta é
feita quando se zangam as comadres, que segredam aos amigos convenientes os
escândalos em série explorados até ao limite pelos órgãos de comunicação. A
justiça afoga-se em leis feitas propositadamente de conteúdo labiríntico, para
não se chegar a lado nenhum. As culpas políticas acabam com o sacrifício de
bodes expiatórios de terceiríssima categoria. O financiamento das penúltimas
campanhas eleitorais e outras falcatruas em França estão ainda a arrastar
os pés. No Vaticano demitiram o presidente do Instituto para as Obras
Religiosas. Na Itália, em Espanha, na Grécia e em Portugal, nem se sabe por
onde começar com todos os “casos” de corrupção e de associações de malfeitores.
Mas se há uma certeza, a julgar pelas águas passadas, é que vai tudo continuar
quase na mesma.
Quase, porque neste aspecto,
em Portugal as coisas estão a precipitar-se. É temporário, mas vale apenas
aproveitar enquanto dura. Por um lado, o aperto da austeridade e a obrigação de
fazer algumas reformas estruturais para troika ver, estão a aumentar a eficácia
da luta contra algumas das conjuras que existem para apropriação particular dos
bens e interesses do estado. Por outro lado, os resultados judiciais são ainda
objecto de ridículo.
Com este novo destapar dos
bastidores, aparecem os resultados das conivências e as cenas de ciúmes, para
lembrar como as coisas funcionam realmente. Entre políticos e jornalistas, que
se tratam por tu nos debates televisivos e obviamente trocam confidências de
travesseiro. Entre as facções económicas e as suas guerras familiares. Entre
partidos políticos que põem as suas ambições e devaneios ideológicos, acima dos
interesses do país.
Estes incidentes começam pequenos
mas nunca se sabe onde vão parar. Podem descarrilar o pouco de bom que está a
ser feito e com isso arrastar todo o país no mesmo descalabro.
JSR
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