Götterdämmerung |
Published 3/05/2012 by "Jornal do Fundão".
Esta pergunta já seria maçadora se não se tratasse dum drama nacional. Até seria de resposta relativamente fácil se este drama não se desenrolasse no meio duma tragédia europeia.
Esta pergunta já seria maçadora se não se tratasse dum drama nacional. Até seria de resposta relativamente fácil se este drama não se desenrolasse no meio duma tragédia europeia.
Já foi bem explicado qual é a situação do pais, as causas
externas e internas dessa situação, assim como as suas consequências: as
inevitáveis (o empobrecimento), as prováveis (a limitação drástica do estado
social), as possíveis (o desemprego elevado durante um longo período) e os
desastres improváveis mas todavia possíveis (a saída do Euro).
Ainda não foi suficientemente bem explicado (excepto por
algumas personalidades mais esclarecidas, mas ainda pouco escutadas), porque é
que a economia europeia se está a afundar na competição global. Enquanto algumas
economias do Norte, particularmente a Alemanha, conseguirem disfarçar o seu
próprio declínio com exportações de alta tecnologia e de grande valor
acrescentado, os seus governos tapam os olhos aos próprios eleitores para
esconderem os problemas que avançam inexoravelmente das periferias para o
centro e que também os atingirão mais cedo do que mais tarde.
Mas a pergunta subsiste, nas assembleias políticas, nos
meios de comunicação, nas reuniões públicas e privadas, nas conversas de rua,
em todo o lado: Então e agora? Como as crianças numa longa viagem de carro, que
perguntam de cinco em cinco minutos aos pais: Então, já chegámos?
A resposta é simples: Não, ainda não chegámos e
infelizmente não podemos saber quando vamos chegar, pela razão também simples
que não sabemos onde vamos. Quem disser o contrário ilude-se e ilude-nos.
Esta fase da crise começou com a desculpa duns activos
tóxicos nos USA (acções que não valiam um caracol, mas que as agências de rating, na sua grande sabedoria
corrupta, recomendavam a compra aos investidores) e a falência dum Banco que se
julgava acima das leis do mercado. Seguiu-se uma cascada de outras falências, a
descoberta de várias falcatruas monumentais e a suspeita de muitas outras, numa
hemorragia que foi necessário estancar antes que o sistema financeiro mundial
entrasse em colapso.
Outras vítimas (também culpadas) foram os países em
várias partes do mundo que sobreviviam da acumulação de dívidas que excediam
cada vez mais a sua capacidade de pagamento futuro. Governos preocupados em
ganhar eleições e infiltrados por interesses privados que sugam os estados
enquanto podem, conscientes da sua capacidade de se pôr ao abrigo dos desastres
inevitáveis, em paraísos fiscais e países de refúgio.
Mas o grande problema é que a Europa envelheceu e começou
a definhar. Com a baixa natalidade e as políticas falhadas de integração dos
imigrantes, não consegue sustentar o estado social. Aberta a todas as
importações pelos acordos de comércio internacional (mesmo de países governados
por regimes autoritários e exploradores dos seus próprios povos) importa a
preços mais baixos aquilo que costumava produzir, aumentando o seu próprio
desemprego. Nem todos os seus países membros conseguem compensar com
exportações nas áreas em que têm vantagens comparativas. Sem exigir a
reciprocidade no acesso a contratos e mercados, arruína-se progressivamente.
A Europa perdeu a alma no século passado com as duas
guerras civis e o fim dos impérios coloniais. Perdeu a predominância económica,
política, militar e sobretudo o respeito próprio, ao ter que aceitar a tenaz da
partição imposta pela “cortina de ferro” soviética por um lado e a tutela
Americana por outro. Agora, enquanto constrói penosamente a oportunidade de
juntar forças para recuperar o seu lugar no mundo, os egoísmos nacionais mal
informados tornam cada vez mais penoso o aprofundamento fiscal e politico,
indispensáveis para a consolidação da União.
Em Portugal, país pouco europeu por natureza, a
desagregação dos mercados coloniais, a perda da auto-suficiência relativa e o
consequente emprego na agricultura, nas pescas e na pequena indústria, deixou o
país entregue aos interesses duma oligarquia político-económica, incestuosa e
apropriadora em proveito próprio dos recursos do estado, que acabou por esgotar
o seu crédito.
Após o acordo para a presente ajuda externa, este governo
tem o mandato eleitoral, a capacidade e as características próprias de competência
e energia, para implementar as exigências da "troika", que são os
verdadeiros regentes do país. O que tem estado a ser feito com um sucesso
importante, mas parcial.
Um governo de executivos competentes, mas que
infelizmente ainda não conseguiu fazer as reformas estruturais previstas, entre
as quais a dos serviços do estado e a renegociação dos contratos leoninos
oferecidos por governantes anteriores às empresas para onde migraram depois.
Empresas que extraem rendas exorbitantes dum estado que contribuíram para levar
à falência. Um governo que não tem, também, nem a visão politica para ser
capaz, nem a experiência para saber quando, pode e deve descolar da tutela da
"troika". No momento próprio.
Embora tenha ganho a aprovação dos parceiros
internacionais, não ganhou ainda o seu respeito, não atingiu a força suficiente
para renegociar os termos do acordo, em montantes, em tempo e em juros, de
forma a conseguir libertar o investimento nas empresas exportadoras e fomentar
o emprego nas áreas mais produtivas.
E
esse momento era agora. Antes da confusão das mudanças politicas na França e na
Alemanha e das convulsões gregas após as eleições. Audaces fortuna adiuvat...
JSR
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