New Age Fat Cat |
Folheei o livro nas livrarias e
agora vi o documentário do mesmo nome depois de uma catadupa de recomendações.
Bom, e então? Para além de alimentar curiosidades, honestas ou perversas, para
que é que isto serve?
Que os homens não nascem
iguais e vivem e morrem cada vez mais desiguais, toda a gente sabe. Que, seja
qual for a organização social, os indivíduos se estratificam inevitavelmente, qualquer
um se apercebe bem cedo ou, para os mais obtusos, o mais tardar quando chegam ao
mercado de trabalho. Que existem donos de cada país e que isso acontece com todos
os países, verifica-se com um pouco de experiência internacional. Que, cada vez
mais, a globalização da economia, da tecnologia e da informação, permitem o
aparecimento de donos do mundo, apreende-se com um pouco de cosmopolitismo, de
atenção e de conhecimento.
Mesmo em suposta democracia, uma
classe de privilegiados é sempre “mais igual” do que os outros. Em Portugal, a
burguesia dos negócios infiltrou-se, despiu-se, misturou-se e acabou por
substituir a aristocracia como classe dominante. Esta nova classe híbrida apropriou-se
progressivamente dos poderes do estado e continua a reproduzir-se das relações
incestuosas que mantém com os seus sucessivos detentores. Nada de novo, nesta grande
família promíscua mudam os mitos das personagens, mas no fundo o teatro é sempre
o mesmo. Desapareceram os mitos da nobreza, que embora totalmente bastarda,
ainda se pretendia de origem visigótica e herdeira dos direitos adquiridos pela
presúria. Vingaram-se os comerciantes anteriormente diminuídos como classe
social e por serem ou descenderem de cristãos-novos, que ao meterem-se na cama
da nobreza aumentaram o instinto de rapina nos seus genes. Mas continuam todos
muito dependentes da religião tradicional e do regime, qualquer que ele seja.
Desde que a oligarquia mantenha os seus privilégios, a Igreja mantenha o povo
resignado (crente que depois da morte é que vai ser bom...) e que um regime
politico mantenha os mais recalcitrantes a manifestarem tanto quanto queiram, mas
inofensivos, tudo vai pelo melhor. Tudo muda e tudo fica na mesma.
Podem-se escrever - e escrevem-se - exactamente o mesmo tipo de relatórios acerca de qualquer
país do mundo, seja qual for a sua forma de organização política. Nos Estados
Unidos, a elite económica e os que lhe estão associados duma forma ou doutra,
representam cerca de 1% da população, percentagem que deve ser válida também para
as outras democracias. Nos outros regimes, as percentagens dos privilegiados em
relação à totalidade da população são ainda menores. As “nomenclaturas”
comunistas tornaram-se classes hereditárias, como na antiga URSS e ainda na
China, ou mesmo ridículos regimes dinásticos, como na Coreia do Norte. Há também as
monarquias tribais dos emires do petróleo do Golfo, as teocracias medievais do
Irão e outros, os novos sobas da África, os “robber barons” do Sul da Ásia, as “cliques”
da América Latina.
Esta estratificação está na
natureza humana e faz parte da evolução. Desde que se constituíram as primeiras
comunidades agrícolas que as diferenças de produtividade levaram à noção de
propriedade e que das trocas de produtos nasceu a noção de capital. Apareceram
então os aproveitadores que, pela força das armas ou pela chantagem da superstição,
viviam à custa dos que trabalhavam e em troca protegiam-nos dos outros bandidos
e dos medos do desconhecido. Uma simbiose de vantagens desiguais, mas
duradoura. Até hoje.
Há alguma coisa a fazer para
mudar este estado das coisas? Na realidade não muito, mas o politicamente
correcto obriga a inventar umas quantas teorias sociais, para mascarar a
realidade aos corações mais sensíveis e não chamar o verdadeiro nome às coisas.
Por um lado, a globalização nivela presentemente as diferenças dos estratos correspondentes de todos os países. Os mais ricos estão cada vez mais ricos, são mais numerosos e mais bem distribuídos pela face da terra. Aqueles que tem melhores conhecimentos para participarem na revolução tecnológica que transforma a produção agrícola e industrial, os transportes e a distribuição, o consumo e tudo o resto, vêm a sua qualidade de vida aumentar onde quer que estejam. Todos os outros em actividades progressivamente obsoletas, estão também na competição global nos seus sectores respectivos e os seus rendimentos alinham-se pelos mais baixos, independentemente do local. Várias gerações estão a ser sacrificadas neste processo.
Por outro lado, o avanço da sociedade do conhecimento traz a esperança duma melhoria progressiva da qualidade de vida para todos no longo termo e da sua homogeneização no ainda mais longo termo. Na condição de se controlar a população mundial, de não se dar cabo do clima irremediavelmente, da inteligência e da razão derrotarem a ignorância e o fanatismo. É preciso começar agora, mas quem vier a seguir, verá.
Por um lado, a globalização nivela presentemente as diferenças dos estratos correspondentes de todos os países. Os mais ricos estão cada vez mais ricos, são mais numerosos e mais bem distribuídos pela face da terra. Aqueles que tem melhores conhecimentos para participarem na revolução tecnológica que transforma a produção agrícola e industrial, os transportes e a distribuição, o consumo e tudo o resto, vêm a sua qualidade de vida aumentar onde quer que estejam. Todos os outros em actividades progressivamente obsoletas, estão também na competição global nos seus sectores respectivos e os seus rendimentos alinham-se pelos mais baixos, independentemente do local. Várias gerações estão a ser sacrificadas neste processo.
Por outro lado, o avanço da sociedade do conhecimento traz a esperança duma melhoria progressiva da qualidade de vida para todos no longo termo e da sua homogeneização no ainda mais longo termo. Na condição de se controlar a população mundial, de não se dar cabo do clima irremediavelmente, da inteligência e da razão derrotarem a ignorância e o fanatismo. É preciso começar agora, mas quem vier a seguir, verá.
JSR