Afghanistan Spring |
Estas considerações são
provocadas pela transição de estação do ano e pela coincidência de ter recebido
hoje umas notas de viagem dum amigo e antigo colega, que está a dar assistência
técnica ao Afeganistão, entre outros países em dificuldades.
O novo ano romano começava nos
idos de Março, ou seja, a meio do mês dedicado ao deus Marte. Esta já era uma
adaptação das celebrações anteriores realizadas pelas religiões da natureza, dedicadas
ao despertar das plantas e alguns animais, depois do sono invernal. A altura em
que os dias e as noites são iguais e a duração diária da luz começa a superar a
duração das trevas.
Estes simples factos vieram
depois a ser recuperados pelas chamadas religiões reveladas, que não são mais
do que compilações de tradições acumuladas ao longo dos tempos por diversas
tribos humanas. Com a invenção da escrita chamaram a essas compilações “bíblias”,
conjuntos de livros, ou resumos como o Corão, ou outras coisas que os povos consideraram
“sagradas”, o que no sentido original de “venerandas” não traz mal ao mundo,
mas que consideradas como “a palavra definitiva, infalível, única e completa”
dos deuses respectivos, é uma perfeita aberração histórica e um atentado à
inteligência.
Esses mitos sobre a transição
destas estações do ano, que passaram de mão em mão, incluem coisas como: a
adoração da deusa mãe que tem tido muitos nomes (Ísis, Afrodite, Maria), que
desperta a vida, protege as sementeiras e faz surgir os rebentos das flores,
das folhas e dos cereais; a tradição dos vários filhos de deuses e de mulheres
mortais que salvam os seus povos através do seu próprio sacrifício e morte,
para depois renascerem com a Primavera (Osíris. Adónis, Dionísio, Cristo); e
muitas outras tradições, como as ligadas aos ovos numa simbologia da vida em
embrião.
Conta aquele meu amigo nestas
mais recentes crónicas de viagem, como no Afeganistão se estão a preparar leis
de acordo com as decisões dos “ulemas”, um grupo de fundamentalistas islâmicos
que querem impor a “sharia” na sua forma mais retrógrada, com a qual os muçulmanos
mais civilizados não estão evidentemente de acordo. Entre essas leis está por
exemplo o retorno das mulheres a uma condição inferior de menoridade social. Não
vão poder sair de casa para estudar, trabalhar, fazer compras, viajar ou
qualquer outra actividade, sem serem acompanhadas por um membro masculino da
família.
Estão os Estados Unidos e os
seus aliados, a sacrificar as vidas dos seus soldados e rios de dinheiro, em países
cuja evolução civilizacional está ainda em plena Idade Média. É certo que é preciso
defender os interesses geoestratégicos da parte da humanidade mais desenvolvida
ou em vias de desenvolvimento, que partilham os mesmos valores humanistas, sejam
religiosos ou seculares. Mas é muito difícil aceitar que tanto esforço serve de
muito pouco. As consequências da globalização tornam impossível isolar
completamente estes e outros “parques jurássicos”, em várias partes do mundo.
Neste ponto, nem a chegada da Primavera traz algum optimismo.
JSR
No comments:
Post a Comment