"Léonidas aux Thermopyles" de J.-L. David (Musée du Louvre) |
De dentro do “cavalo de Tróia” que a União Europeia primeiro e a Zona Euro a seguir, trouxeram para dentro das suas muralhas, saiu a Grécia inteira. Como os Troianos, a União puxou para o seu seio o cavalo de madeira. Mas sem ter aprendido nada com o que aconteceu aos Troianos, a Zona Euro reboca essas estruturas uma vez e outra e outra, todas as vezes que os Gregos constroem uma diante das portas. Porque? Porque estão condicionados assim.
Embora descendam apenas remotamente daqueles que construíram uma parte importante dos alicerces da civilização ocidental, os Gregos modernos não perderam nenhuma das características da sua história real e mitológica da época clássica. Cidades-estado que nunca constituíram um país unido. Democracias de vária ordem, autoritárias ou paralisadas por divisões internas, que nunca incluíam os comerciantes, os servos e ainda menos os escravos. Durante todos estes séculos que entretanto passaram, contaminaram a Europa em profundidade. Primeiro Roma, que ao conquistar as cidades gregas integrou os seus deuses, ou seja, a sua filosofia de vida. Depois os próprios Romanos disseminaram essa civilização por todo o seu mundo até chegar a grande noite da barbárie e da superstição medievais.
Estes Gregos… por quem se realizam os oráculos dos desastres europeus, que testam os limites da paciência dos amigos e dos inimigos. Que dizem uma coisa e fazem outra, ou não fazem nada. Que fazem promessas que não cumprem. Que vendem gato por lebre. Que se dividem uns contra os outros. Que se contradizem e se batem entre eles e contra o exterior. Que se comportam como os seus antigos deuses. Que afinal são… gregos, de quem todos os europeus têm uma costela biológica e parte da estrutura mental.
Para cada um dos capítulos da tragédia que tem sido a sua participação nos projectos europeus, pode-se sempre encontrar uma analogia, uma citação da sua própria mitologia. As cidades-estado, com todas as suas qualidades e defeitos, com todas as suas forças e fraquezas, resistiram aos Persas mas foram absorvidas pelos Romanos. Se compararmos as nações europeias às antigas cidades gregas, e a União como uma necessidade de sobrevivência igual à das antigas coligações, será necessário identificar sem confusão quem são os novos Persas e quem são os novos Romanos. Quem é preciso enfrentar e com quem é preciso colaborar. Porque somos todos gregos.
Afinal, desde a época clássica que estas histórias se têm repetido sob diversas formas, sem que as sucessivas gerações tenham aprendido grande coisa. Atavismos, como se vê.
JSR
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