O impasse económico actual faz com que apareçam cada vez mais claramente os limites de funcionamento das democracias ocidentais, do capitalismo liberal que as sustenta e do exercício da liberdade individual dos cidadãos na qual se baseiam.
Todos estes conceitos e as suas justificações filosóficas, encontram-se agora diante do ataque frontal de concepções diferentes e competitivas na escala global. Como instrumento de avaliação, ou benchmark, está apenas a eficácia na gestão económica e a sua consequência politica no poder dos estados.
As democracias europeias e norte-americanas atingiram um equilíbrio social e uma prosperidade alargada, ambos devidos ao crescimento económico em todas as áreas produtivas nos anos que se seguiram à segunda grande guerra do século passado. Foi bom enquanto durou, mas chegou ao fim.
A liberalização do comercio mundial, a queda das tarifas protectoras das especificidades de cada estado ou de cada região económica, pôs em competição global directa todas as empresas e todas as classes produtivas. As empresas com vantagens comparativas de qualidade, produtividade ou implantação de mercado, assim como os gestores e profissionais mais bem preparados, podem ver os seus lucros ou remunerações crescer. Mas as empresas e os trabalhadores mais expostos à competição vinda de lugares de mão de obra mais barata, sem ou com menores custos de protecção social, acabam por desaparecer ou perder os postos de trabalho.
Este re-equilibrio mundial favorece os países emergentes e assinala a decadência das antigas potências industriais da Europa e da América do Norte. Com as dificuldades económicas questiona-se tudo o que tem feito a superioridade, ou pelo menos a diferença, das sociedades Ocidentais: a democracia secular, o capitalismo liberal, o estado social.
Pode um despotismo benevolente à la Singapura equilibrar melhor os interesses de diferentes comunidades, juntas num processo acelerado de desenvolvimento? Pode o capitalismo de estado, apropriado por um partido ditatorial, sacrificar a maior parte da população ao enriquecimento e projecção do poder do país, como está a fazer a China? Podem países subdesenvolvidos, mas ricos em recursos naturais, ser representados apenas pelas máfias que se apropriaram do poder e dos despojos, investindo as sobras nos fundos soberanos em seu benefício, como fazem os emires do petróleo, alguns ditadores africanos, ou também a Rússia?
Das respostas a estas perguntas, debatidas com o alarme da preocupação e da urgência nos meios académicos e políticos, depende o futuro. Tudo o resto são situações conjunturais.
JSR
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