Saturday, December 17, 2011

80 - "Fog in Channel, Continent Cut Off”, Mr. Cameron

Cameron Pis ?
“Há nevoeiro no canal, o continente está isolado”... Conta-se que entre as duas grandes guerras europeias do século XX, a expressão era corrente nos boletins meteorológicos ingleses e assim devidamente noticiada pelos jornais.
Mais do que o chauvinismo tradicional e um estado de espírito, isto significa uma auto confiança com raízes testadas pelos factos. Uma sociedade profundamente conservadora precisa de tempo para evoluir e para ser convencida das vantagens de qualquer mudança.
A Inglaterra esteve contra este ultimo conselho europeu e não concordou com as suas decisões. Não são só os interesses da City of London. É a forma e é o conteúdo do acordo. Não hesitou em ficar só contra todos e se há um país ao qual se deve prestar atenção quando isso acontece, esse país é a Inglaterra. Há suficientes razões históricas, antigas e recentes, para justificar essa precaução.
Quando o Marquês de Pombal escreveu a célebre carta ao governo inglês por causa do incêndio de barcos comerciais franceses que saiam dos portos algarvios, pela armada britânica, começou por lembrar que Portugal podia mudar de alianças. Era o tratado de aliança entre os dois países que permitia excepcionalmente aos barcos comerciais ingleses não serem revistados nas alfandegas ao partirem. Assim, podiam sair com o ouro do Brasil que recebiam em pagamento dos bens manufacturados que traziam, ouro que permitiu a construção dessa mesma armada que assegurava o seu poderio naval no mundo.
Nessa altura, a Inglaterra enviou rapidamente um embaixador carregado de explicações e referências a uma "amizade" tão antiga. O risco de perder um bom negocio valia bem um pedido de desculpas. Mas quando Portugal quis reivindicar o "mapa cor de rosa" em África, já não havia ouro a ganhar, por isso recebeu um ultimato em vez de apoio nas negociações de Berlim. Na última guerra, a Inglaterra resistiu absolutamente só até conseguir arrastar os Americanos para o seu lado. O que não era óbvio e que o resto da Europa esqueceu depressa demais.
O pragmatismo inglês nunca deve ser subestimado, nem a capacidade de defender os seus interesses contra tudo e contra todos. Vale sempre a pena fazer uma pausa para perceber porque o "buldogue" inglês se recusa a avançar, em vez de sucumbir a reacções epidérmicas. Pode ser que, afinal, os nossos interessem coincidam. Pode ser que não.
Nesta ultima cimeira europeia, seguir as elucubrações a dois do Directório germano-francês, necessitava um "leap of faith", uma fé cega que as meias-medidas apresentadas seriam suficientes desta vez para restaurar a credibilidade na zona Euro. Não eram, como os mercados e as agências de rating se apressaram a mostrar logo a seguir. Porém, a maioria dos representantes políticos dos estados membros deixaram-se levar pelo sindroma do rebanho e seguiram quem se apresentou a liderar. As propostas da Comissão eram bem mais racionais, mas foram ignoradas.  
Parece que ao menos um, pelas boas e más razões que evocou ou que lhe atribuíram, foi capaz de dizer "não".

JSR

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