Saturday, December 10, 2011

77 - Geo-estratégia, o xadrez dos reis

Life Chess - Shigolev Oleg
A União Europeia está sem rei nem roque. O directório ad-hoc germano-francês duplica, interfere e sobrepõe-se às responsabilidades executivas da Comissão e legislativas do Parlamento.
Apesar de todos os protestos em contrário, a União já avança a velocidades diferentes. Tem-se progressivamente dividido em grupos, união aduaneira para todos, directivas comunitárias com excepções para alguns, união monetária para 17, espaço de livre movimento para além das fronteiras da União. Tem sido incapaz de progredir de forma significativa no estabelecimento de políticas comuns nas áreas financeiras, fiscais, económicas e de relações internacionais.
Vários dos seus membros pretendem e por vezes conseguem, conduzir políticas de protecção dos seus interesses individuais acima dos interesses da União. Acontece em todas as áreas e para obter consensos, e também por falta de alternativas, ocasionalmente arrastam a maioria dos outros em acordos mal equilibrados.
Para resolver a crise presente, é obvio que é necessário estabelecer imediatamente o suporte das dívidas soberanas nos mercados pelo Banco Central Europeu e a termo uma união fiscal e eurobonds. Estes últimos  conselhos europeus, com muita parra e pouca uva, têm a eficácia duma dança da chuva tribal. Porquê?
Porque ninguém quer assumir as verdadeiras razões da desconfiança dos países do Norte em relação ao Sul. Não são tanto os desequilíbrios orçamentais e o aumento galopante das dívidas, mas o que está por detrás disso, a corrupção nos contratos com o estado, as máfias subvertendo a economia de regiões inteiras, a Grécia, Chipre, o Sul e ilhas da Itália, da França, da Espanha e de Portugal. Basta ler os jornais e os relatórios dos Tribunais de Contas. Basta assistir à ineficácia da justiça e às complacências dos que fazem da política trampolim para o outro lado da barricada.
Os países “virtuosos”, e é preciso perceber as razões desta auto-denominação nem sempre merecida, querem ter a certeza que os outros se “reformam”, antes de aceitarem ser seus fiadores. E assim o tempo vai passando, de pequenos passos e grandes promessas, até que um dia destes não resta nada para reformar.
Sem uma estratégia de desenvolvimento comum que se veja, a tentação é sempre grande para os “aprendizes de feiticeiro” europeus de jogar o xadrez dos reis para disfarçar as profundas deficiências internas. Quando a estratégia é confusa, as decisões nunca são suficientes para resolver os problemas que ocorrem, quanto mais uma crise financeira de confiança. Sem um Presidente eleito por todos os europeus e sem um governo federal eleito pelo Parlamento, a Europa não terá nunca um peso geo-estratégico que valha, nem nas decisões internas, nem nas relações internacionais, sejam financeiras, económicas ou políticas.
A União Europeia tem o peso económico dum gigante, mas uma capacidade de projectar poder militar apenas média e um protagonismo político atrofiado. O total é muito inferior à soma das partes. Pior que tudo, está a ficar cada vez menos democrática.
JSR

No comments:

Post a Comment