Crossroads - Jeff Owen |
8 - A Encruzilhada...
Para Portugal, chegou o tempo das grandes decisões. No xadrez geopolítico desta crise, é agora que se vai ver se o governo português sabe jogar com os mestres ou se estamos a ser governados apenas por amadores competentes mas sem experiência nem audácia, condenados a um futuro medíocre e arrastando com eles o país que neles votou.
O presente executivo começou a implementar as reformas necessárias para inverter muitos anos de desgoverno. Os objectivos são claros: que o Estado não gaste mais do que o que obtém em impostos, que as importações não excedam as exportações, que o recurso ao crédito não ultrapasse os valores equivalentes de poupança e que o nível de vida da população não seja superior à produtividade nacional. Por outras palavras, submeter o país a uma gestão de dona de casa prudente, para acabar com as manias de grandeza dos arrivistas que dominaram a vida política e económica desde o 25 de Abril.
A terceira República acabou, avisem os iluminados populistas que fingem que ainda não se aperceberam. A quarta República já chegou com as trombetas e fanfarras destes últimos Orçamentos, mostrando que vai ser muito atavicamente “pobre mas honesta”. Pobre porque não tem escolha. Honesta, honesta, é ainda só um desejo de que o parlamento e a justiça tenham a coragem de respectivamente legislar e de aplicar atempadamente as leis, aos gangs que prosperam a parasitar o estado. Como diziam os optimistas do regime anterior: habituem-se.
Alem disso, o país terá que encontrar uma solução para esta situação de “servidão contratual” em que se encontra. O Estado está na dependência dos credores representados pela troika, o sistema bancário depende dos investidores e do Banco Central Europeu, assim como muitas empresas e cidadãos dependem dos seus Bancos. Todos estes estratos devem mais do que podem pagar.
Se a economia não crescer, a matemática mostra que será impossível a cada um destes grupos pagar as suas dívidas. Se a economia crescer pouco, o pagamento dos juros da dívida deixará o Estado e os outros sem rendimentos para investir no desenvolvimento. Só se a economia crescer mais do que a média europeia, poderão eventualmente pagar também o capital das dívidas, mas só em parte e sobre um longo prazo. Porque para lá dum certo limite, ao tentar pagar todas as dívidas assim como os juros acumulados o país entra num impossível “catch-22”, um beco sem saída.
As últimas evoluções da crise das dívidas, atingindo já todo o crescente Sul da Europa, está a levar a uma reavaliação das medidas financeiras tomadas até agora. Essas medidas foram inspiradas pela decisão política, motivada por considerações eleitorais, de castigar os países despesistas pelos seus excessos e de os obrigar a implementar as reformas necessárias para que a situação de insolvência, assim esperam, não se repita no futuro. Os programas de ajuda têm sido aplicados caso a caso, a sua manutenção é condicional aos progressos obtidos e o processo sujeito a supervisão externa. Essa fase está a acabar.
Cada dia que passa torna mais clara a interdependência de todos dentro da zona Euro, mais inevitável a partilha dos custos e das soluções numa maior integração económica, financeira e fiscal, assim como a extensão das consequências dessa integração a toda a União.
Vamos ver até que ponto o governo vai saber aproveitar as vagas desta mudança de maré, como oportunidade para negociar a percentagem da dívida que será possível pagar, obter para o resto uns juros proporcionais ao crescimento e um prazo de pagamento suficientemente longo para não descapitalizar a economia. É preciso que todos, países e cidadãos, paguem o preço para sair da crise, um preço que seja proporcional aos seus interesses e às suas capacidades.
Os ventos sopram desfavoráveis aos impostores.
JSR
Excelente artigo, mais uma vez e como já me habituou, com uma fantástica e precisa descrição da "nova" República. Particularmente, a clareza com que descreve as medidas e objectivos do Governo no 2º paragrafo são excelentes - tivesse o Governo capacidade de explicar as coisas assim e muito melhor passaria por estes dias incertos...
ReplyDeleteVou partilhar este artigo. Merece!
Obrigado pelo comentário. É verdade que o governo podia e devia ser mais claro, mas também é verdade que uma boa parte dos cidadãos e até muitos "jornalistas" nem sequer compreendem o que lhes é dito. Como exemplo, ouvi hoje o ministro da economia dizer no parlamento que o ano de 2012 ia ser mau, mas representaria o princípio do fim da crise para 2013 e 2014. Logo a seguir vários comentadores diziam que o ministro anunciara o fim da crise para 2012. Realmente, mais valia estarem todos calados...
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