Friday, November 11, 2011

72 - Carpe Diem - Os Impostores (7)

Carpe Diem - Gabriele Leozzi

 7 - Carpe Diem...

Da forma como na Europa se tem interpretado a citação “carpe diem quam minimum credula postero” (aproveita o dia, pondo tão pouca fé quanto possível no futuro), tirada das Odes de Horácio, está contido o destino da União, um grupo de países com muitas coisas em comum e muitas outras que os separam.  
Alguns países usaram-na durante muito tempo no sentido de “aproveitar o dia” para o prazer imediato de viver a crédito, sem preocupações com o futuro e estão agora em diversas fases de pagar, ou começar a pagar, a sua leviandade.
Outros, com diferentes tradições culturais, têm-na usado como incentivo para evitar perder tempo com futilidades, “aproveitar a oportunidade de cada dia” para ir construindo o futuro, porque a vida é incerta e não se deve confiar nos deuses ou esperar pelo dia de amanhã.
Esta última crise revelou as fragilidades comuns aos chamados países periféricos: as cumplicidades entre as classes políticas e as oligarquias económicas, os sistemas legais tendenciosos e os serviços de justiça disfuncionais, as empresas em simbiose parasitária com os organismos do Estado, os baixos níveis de competências e de produtividade, as consequentes falta de competitividade e estagnação do crescimento económico, o financiamento do desenvolvimento e do estado social com recurso a empréstimos externos que por excessivos nunca será possível pagar totalmente.
As reformas estruturais (para tentar acabar com as situações mais escandalosas de abuso, desordem e desperdício) e as políticas de austeridade (para baixar o nível de vida ao que é sustentável), são necessárias mas insuficientes para gerar crescimento. Sem crescimento não se pagam as dívidas. Um circulo vicioso que é preciso quebrar.
Por outro lado, os chamados países virtuosos têm aproveitado a liberalização do mercado único para obterem balanças comerciais tão excedentárias quanto possível, à custa da prodigalidade dos países a quem vendem os seus produtos e a quem concedem empréstimos, directa ou indirectamente.
Quando o desequilíbrio se torna insustentável estabelecem-se Fundos europeus de estabilidade, o último dos quais negociado com a esperança ingénua de que os países emergentes nele invistam, como se confessar falta de auto-confiança favorecesse a credibilidade externa. Humilhação inútil, pois até a China, país ainda soi-disant comunista, acusa a Europa de favorecer a indolência com os seus sistemas de protecção social e indica que o investimento dos seus 400 bilhões de fundo soberano será baseado unicamente na rentabilidade, uma decisão puramente capitalista.
 Mas o que fazem as instituições da União Europeia, saídas de todos os tratados e acordos? O que fazem os responsáveis da Zona Euro? Em vez de aproveitarem esta crise para aprofundarem a União, os dirigentes europeus estão a deixar desperdiçar a ocasião, não tanto por culpa própria mas por interferência oportunista dos chefes políticos dos países mais influentes.
Os políticos estão reféns de interesses transitórios e de modelos económicos caducos, incapazes de se auto-regularem mas capazes de protelarem as tentativas de impor uma regulação comum efectiva. Estão também manietados por opiniões públicas confusas que se vêm obrigados a seguir quando se aproximam eleições, porque têm falta de estatura e capacidade para as liderar.
Entretanto a Europa desindustrializou-se e o desemprego cresce, pois nem todos sabem fazer outra coisa além do trabalho nas fábricas. As actividades pós-industriais globalizam-se mais rapidamente do que previsto, deixando aos europeus um quinhão menor do que o investimento em educação lhes permitia esperar.
A Europa já funciona a várias velocidades. Acabou o escapismo de falsos problemas de influência geoestratégica. Acabaram os alargamentos da União Europeia por razões políticas. Acabou o sonho para uns e o pesadelo para outros, dum possível  alargamento à Turquia, pois observando os problemas que causam 12 milhões de gregos, poucos ousam imaginar o que aconteceria com cerca de 80 milhões de turcos.
Neste período crucial, os dirigentes políticos na gravitação do Directório Franco-Alemão, onde o “Franco” encolhe todos os dias, têm partilhado da interpretação rasteira de “carpe diem”, resolvendo a posteriori os problemas de cada dia.
                                                               (continua)
JSR

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