1/2 Sovereign |
4 - Please God, make me good, but not yet...
“Por favor, Deus, faz-me bom, mas ainda não...”, uma tradução cínica e inventiva tirada das Confissões de S. Agostinho, aplica-se à forma como o Reino Unido e alguns outros países, “protestantes” em vários sentidos do termo, se relacionam com a União Europeia.
O Reino Unido não se conformou ainda com o facto de ter ganho a última guerra contra a Alemanha e ter agora uma posição subalterna na união económica. Nem se esquece que a guerra foi ganha devido ao envolvimento determinante dos Americanos a quem deixou de interessar essa “relação especial”. Entrou na Comunidade só quando já não tinha alternativas e só entrará no Euro quando se encontrar totalmente isolado e a isso for obrigado. Entretanto, para proteger a City of London e os seus outros interesses, o Reino (já pouco) Unido será uma força de bloqueio ao caminho da União Europeia para o federalismo.
Os projectos de tributação sobre os movimentos financeiros internacionais, têm sido resistidos por todos os hipócritas que são partes muito interessadas. A chamada “taxa Tobin”, uma das propostas nesse sentido, tem morrido e sido ressuscitada inúmeras vezes. Volta agora pela voz de vários dirigentes europeus, por ocasião da reunião do G20, um duplo exercício em futilidade. Tal como a intenção de acabar com a praga dos paraísos fiscais, são boas intenções de alguns que vão contra os interesses de muitos outros.
Desta vez, além dos culpados do costume, há também um inimigo do interior, a City of London. O maior centro financeiro europeu poderia ser um grande trunfo da zona Euro, mas é por agora o maior obstáculo à legislação financeira necessária à sua consolidação.
Uma união sobretudo aduaneira interessou e interessa principalmente aos países de acumulação de capital especulativo, fortes indústrias, fornecedores de tecnologia e outros produtos de grande valor acrescentado.
A união monetária interessa aos países de exportação excedentária, cuja expansão económica, se não fizessem parte da zona Euro, provocaria naturalmente uma valorização das suas próprias moedas. Com o consequente aumento dos custos da produção, dos preços e a correspondente perda de competitividade. Assim, pertencendo a uma união monetária, conseguem evitar esses problemas disfarçando-se no meio do grupo.
Mas os países importadores e perdulários encontraram também vantagens na União e na zona Euro, entre elas a de receber os fundos de coesão e a de conseguir obter juros no mercado semelhantes aos das grandes economias excedentárias. Mas agora, em tempos de crise e de falta de credibilidade, quando se querem também continuar a disfarçar no meio do grupo para se protegerem dos juros altos das suas dívidas pedidos pelos mercados, os países mais prósperos não respeitam a reciprocidade e deixam-nos desprotegidos.
Nem todos os países europeus estão na União, nem todos os países da União estão na zona Euro, a cada qual os seus interesses egoístas. Uns não entraram sequer na União, como a Noruega do petróleo, a Suíça dos serviços financeiros muito especiais, ou a Islândia das pescas. Outros entraram, mas optaram por ficar fora da zona Euro, como a Inglaterra da Libra, ou a Suécia e a Dinamarca dos estados sociais homogéneos.
Afinal que espírito de grupo é este, a vocação da União é a de ser uma matilha de caçadores no mercado global, ou a de um rebanho de carneiros com alguns lobos disfarçados no seu meio?
(continua)
JSR
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