Willem de Kooning. Pink Angels. |
A ilha de Manhattan tem um barulho de fundo permanente que nenhum isolamento e vidros duplos conseguem abafar. Respira dia e noite como um enorme animal, sacudido frequentemente pelas sirenes de bombeiros e ambulâncias, pelas buzinas dos táxis e de outros condutores impacientes. Pode ser o ronronar da Besta, mas é um ronronar de actividade intensa na economia, nas finanças, nos negócios, assim como na cultura e na diversão. A respiração é particularmente suave na abertura da “Fall Season”.
Este ano, como todos os anos, a maior dificuldade é a escolha entre tantas solicitações, de acordo com os interesses e o tempo disponível. Alguns exemplos:
No MAD (The Museum of Arts and Design) há uma exposição “Picasso to Koons, the artist as jeweler”, mostrando alguns dos “petits cadeaux” feitos por artistas conhecidos para oferecer à família e amigos próximos. Podem-se ver desde trabalhos de ouro e prata, por Braque ou Koons, às miniaturas de mobiles de Calder, até aos seixos da praia e pedaços de osso que Picasso pintava ou esculpia para as amantes. Para quem gosta de joalharia e afins é uma caverna de Ali Baba, para quem não se interessa particularmente, dá uma vista de olhos e senta-se no restaurante a brincar com um novo iPad.
A propósito de iPad, a Apple mantém na Quinta Avenida uma loja aberta 24 horas por dia, na qual é preciso fazer fila para entrar. É um cubo branco, com o mesmo nome e o significado para os crentes da Kaaba em Meca, mas com a diferença de que em troca das “doações” se adquire alguma coisa concreta, a última inovação em ídolos tecnológicos.
No Carnegie Hall, a Mariinsky Orchestra conduzida por Valery Gergiev, apresenta “Tchaikovsky in St. Petersburg”, duas sinfonias que representam o princípio e o fim da atormentada carreira sinfónica de Tchaikovsky, “Winter Daydreams” e a “Pathétique”. “Winter Daydreams”, um trabalho da juventude que se quis inspirado da musica folclórica, sinfonia sempre em evolução, nunca considerada terminada, é a mais alegre e luminosa das suas obras, talvez porque para um Russo a tranquilidade das paisagens nevadas do Inverno têm um apelo romântico particular. A “Pathétique” representa o contraste, a maturidade, mas também a continuação das suas inseguranças psicológicas e do desespero pessoal que o devem ter conduzido ao suicídio.
Fora de Manhattan, “Manu’s Cartoons in Brooklyn” é uma exposição numa galeria chamada "The Invisible Dog", situada num prédio meio delapidado que serve também de atelier de artistas. Os cartoons são na linha do Charlie Hebdo, com o mesmo humor ácido acerca da burocracia, dos políticos em cata-vento dos dois lados do Atlântico e das desventuras de Dominique Struss-Kahn. Um tipo de desenho inspirado pelas ilustrações caricaturais que acompanhavam as notícias dos jornais e revistas antes da fotografia. Manu é o “nom de plume”, mas de caneta tanto de escrever como de desenhar, dum Francês que é funcionário da UNICEF em Nova York.
No MoMA (The Museum of Modern Art), está “de Kooning: A Retrospective”. Como o nome indica, uma mostra de todos os períodos da carreira de Willem de Kooning, considerado um dos artistas mais importantes do século 20. A ideia é apresentar as diferentes fases evolutivas durante um período de cerca de setenta anos, começando na Holanda e a partir de 1926 nos US. A retrospectiva inclui quadros, esculturas, desenhos e gravuras, incluindo os mais conhecidos, “Pink Angels”, “Excavation”, as várias “Woman series” e um enorme cenário de teatro chamado “Labyrinth”. No fim dos anos 80, o homem estava a pintar umas linhas vagas em quadros abstractos de cerca de 2 x 3 metros, que parecem azulejos gigantes para casa de banho.
Não é tudo, noutros “posts” mencionei a Ópera, mas há também o Teatro, uma retrospectiva cinematográfica interessante e, mais fora do “radar” pessoal, o New York City Ballet, uma infinidade de “Musicals”, “off Broadway shows”, etc. O respirar da Besta pode ser suave, mas é preciso dormir, fazer pela vida e neste período de crises várias, não perder de vista nem os Gregos nem os Troianos...
JSR
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