Anna Netrebko in Donizetti’s “Anna Bolena” at the Met |
É favor não dizer mal da criatura. Por enquanto, porque se continua a engordar assim, vou ter que actualizar o mapa das estrelas. Entretanto, a Russa é a minha soprano favorita. É certo que o tempo passa e já não é a mesma de “Meine Lippen sie Kussen so heiss” (Giuditta, Lehar) ou de “Song to the Moon" (Rusalka, Dvorak). Esta Ana Bolena começa a entrar na categoria dos pesos pesados, o que é uma pena.
Este ano, o Metropolitan Opera de Nova York abriu a época com a Netrebco no papel principal da “Anna Bolena” de Donizetti. Um papel que já foi representado por algumas das minhas sucessivas sopranos favoritas. Cresci com os ecos da Maria Callas, escolhi Leontyne Price, depois Kiri Te Kenawa e mais tarde Angela Georghiu. Os peritos podem considerar que não foram as melhores do respectivo tempo, porque não se trata de uma ciência exacta, mas duma questão de gosto.
A Opera é um gosto adquirido. Como a política, a religião ou o futebol, onde há gostos para tudo. Há quem ainda seja comunista, seguidor de Zoroastro ou do Vitória de Setúbal. As histórias são inverosímeis, as personagens extravagantes e a característica principal dos partidários/crentes/adeptos é perderem a racionalidade e o sentido de humor no que respeita às suas preferências. Mas na Opera a música é por vezes esplêndida, como são certas obras sacras e, para quem aprecie o género, certos coros do antigo "exército vermelho". Já os hinos dos clubes pertencem à categoria da música pimba.
As críticas desta “Anna Bolena” são variáveis e por vezes contraditórias. Quanto à obra em si, é pacífico que o libretto é chato e comprido, muita confusão para explicar que o “Enrico” VIII, já na cama da “Giovanna” Seymour, quer ver-se livre de "Anna". Porque esta não lhe deu um herdeiro varão (boa desculpa), mas cuja filha Elizabeth acabará por ser rainha, o que já é outra história.
O que interessa aqui é que um crítico do Washington Post (ou antes, crítica, o que talvez explique a agressividade...) acha que o maestro não tinha entusiasmo, que o encenador não era o Luchino Visconti do tempo da Callas, que os outros cantores eram principiantes e, (how dare you?) que a Netrebco fez umas quantas fífias e corria erraticamente pelo palco a torcer as mãos.
Já o crítico do New York Times (com sobrenome italiano...) mostra outra percepção do assunto e considera que sendo apenas a segunda vez que a Netrebco canta esta obra (a primeira foi em Viena, em Abril) foi uma boa performance, cheia de “carisma vocal”, sobretudo nas coloraturas. “She looked regal and splendid”, conclui. O italiano é do meu clube.
JSR
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