Thursday, August 11, 2011

54 - Os Bárbaros que Ajudámos a Criar

Define "slave"...
A barbaridade, no sentido do que está fora da civilização, tem no mundo aspectos diversos que vão do trágico ao risível, dos genocídios à proibição das mulheres guiarem, dos que morrem de fome aos que provocam motins em cidades de abundância para assaltarem as lojas e roubarem os últimos gadgets electrónicos. Como em Londres, agora.
Fora do eixo das democracias, o próprio conceito de civilização tem variações que vão desde os povos que ainda se encontram na idade da pedra, passando por todas as gradações evolutivas ou pelos atrasos provocados por ideologias e superstições. Mas, relutantemente ou não, o caminho parece apontar para uma evolução mais ou menos lenta, mais ou menos crítica, para os padrões ocidentais.  
São estes padrões que têm vindo a mostrar desde há algum tempo a fragilidade das suas instituições e a profundidade da sua decadência.
Os anos que se seguiram à última grande guerra foram tempos de recuperação económica, de fuga à pobreza, de expansão da democracia e da liberdade. Queríamos sociedades com mais oportunidades para todos e mais justas na distribuição social dos benefícios do crescimento económico. Em resumo, os nossos pais, que sofreram a guerra, quiseram que nós vivêssemos em paz e que os nossos direitos individuais fossem respeitados, nós quisemos que os nossos filhos tivessem igualdade de oportunidades e que os nossos netos conhecessem a prosperidade.  
Neste processo fomos legislando impensadamente e com boas intenções permitimos a criação duma nova classe de bárbaros do interior.
Para que ninguém mais passasse fome e frio, onde antes para sobreviver era preciso aceitar qualquer trabalho, até as crianças, e habitar onde fosse possível, até em barracas, o estado concedeu subsídios diversos e habitações sociais. E alguns concluíram que era agradável viver sem trabalhar, que a legislação lhes dava esse direito sem os deveres e obrigações associadas.
Para que houvesse igualdade de oportunidades era preciso que todos pudessem ter acesso ao ensino, o estado multiplicou escolas mas diminuiu a exigência do esforço individual e o rigor da avaliação nos exames gerais. E alguns concluíram que era possível obter diplomas sem estudar e que um diploma da treta tinha que dar direito ao rendimento duma sinecura ou a um parasitismo disfarçado.
Com a competição consequente à globalização, diminuíram também as categorias de trabalho manual e indiferenciado onde se arrumavam os que, apesar de todas as oportunidades, não tinham a capacidade para adquirir outras competências.
Para complicar a situação, vieram gentes de outros lados do mundo, antigas colónias, países em guerra, fugindo ao subdesenvolvimento e à opressão. Imigrantes que, os mais educados e trabalhadores se integravam, e os outros se juntavam ao parasitismo em expansão.
À medida que o produto do trabalho e os impostos iam diminuindo, os governos de alguns países escolheram a facilidade de se ir endividando para manter as protecções sociais.
Depois vieram as crises e o dinheiro fácil e barato começou a faltar aos estados. E alguns concluíram que era injusto que deixassem de ter acesso a tudo aquilo a que se tinham habituado, mais o que viam e cobiçavam, sem nunca se importarem com quem efectivamente pagava as contas.
E têm-se revoltado. Os “casseurs” dos arredores de Paris, os anarquistas de Atenas, os ladrões e saqueadores de Londres. Estes e outros são criminosos que tomam alento com a timidez da polícia, com a fraqueza das leis, com a ausência de justiça, com a falta de firmeza das sociedades decadentes.
Estes motins não se podem nem devem confundir com fenómenos de sociedade como Maio de 68 em Paris ou os direitos civis nos USA, com conflitos de terrorismo atávico como os irlandeses do IRA ou os bascos da ETA, ou com revindicações de carácter social e pacífico como a “geração à rasca” em Lisboa ou “os indignados” em Madrid.
Porque esta gente está no grau zero da civilização ou da sua ausência. Barbarismo primário dos intervenientes, das suas famílias irresponsáveis, das suas comunidades sem valores aparentes de espécie alguma.
Em menores proporções estes tumultos civis já chegaram ocasionalmente a Portugal, juntamente com a criminalidade organizada, tanto a indígena como a de importação estrangeira. Em tempos de crise tudo se amplifica de forma exponencial.
Pelourinho
Ou a legislação, a justiça e o governo através das forças policiais adequadas, tomam a tempo as medidas necessárias, ou as consequências são previsíveis em custo económico e social. 
  Perdem-se investimentos, estrangeiros residentes e turistas. Perde-se confiança na protecção estatal e nesse caso até é possível que as populações locais voltem a dar uso aos pelourinhos medievais, para “escarmento dos energúmenos”...
A verdade sem desculpas ou teorias de pacotilha é uma coisa que incomoda. O que vale sempre a pena desde que o incómodo seja seguido de acções consequentes.

JSR

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