St Dominique peint par Fra Angelico... |
Chega de e-mails surpreendidos e mensagens humorísticas ou sarcásticas.
Pronto, pronto... é preciso comentar a prisão de Dominique Strauss-Kahn (DSK) em Nova York, por uma alegada tentativa de passade com... uma criada de quarto dum Sofitel?! O Managing Director do FMI...
Das duas uma, ou o homem foi vítima dum guet-hapens ou mais provavelmente precisa de tratamento psiquiátrico. Vejamos, pela devida ordem:
DSK é um Francês tipicamente parisiense, da chamada gauche caviar. Como Mitterrand e muitos outros, estão habituados a que os media locais ignorem deliberadamente este tipos de assuntos, considerados com sendo do foro exclusivamente pessoal. Tem uma bagagem considerável e conhecida, de todo o tipo de histórias com mulheres, suficientes para encher um livro de crónicas escritas por alguém com o talento dum Manuel Maria Barbosa du Bocage...
Quando chegou ao Fundo e para o caso de estar esquecido, os advogados da instituição avisaram-no com toda a formalidade de que já não estava em Paris. Mesmo assim aproveitou logo de seguida uma ida a Davos para se envolver com uma economista da sua delegação. Por muito menos foi-se embora um Presidente do Banco Mundial. O Board do Fundo só lhe puxou as orelhas por ter mostrado poor judgement e não o pôs logo fora, pois havia razões fortes de expediência política para evitar ter que escolher um substituto. Mas ficou claro que DSK é certificadamente chanfrado.
Não podia haver maior mismatch com uma organização eminentemente straight laced, formal, ciosa da sua reputação de decorum, qualidade técnica e incorruptibilidade. Por vezes mesmo opaca. As pessoas que a compõem não são nem melhores nem piores do que as outras, mas são definitivamente mais discretas. Até nos títulos profissionais. O Banco Mundial tem um Presidente e uma chusma de Vice-Presidentes. O Fundo tem um Managing Director com os seus Deputies e Directores de Departamento e Chefes de Divisão. Dois outros Franceses foram já Managing Directors e tudo correu bem.
Todavia, a história que aparece agora nos media parece muito mal contada. DSK é um baixote com mais de sessenta anos e estava desarmado. A probabilidade de ter obrigado uma mulher de trinta, com a robustez física suficiente para trabalhar como criada de quartos, a fazer-lhe sexo oral é francamente difícil de... sorry pela alusão directa... engolir. Será assim tão difícil para a rapariga manter a boca fechada... ou morder?
Alguma coisa mais se passou. É aqui que levantam voo as teorias da conspiração. As sondagens eram-lhe favoráveis num eventual confronto com Sarkozy nas próximas presidenciais em França. Já durante as últimas eleições, que Sarkozy ganhou contra Dominique (esse não nicava nada que se soubesse...) de Villepin, passou-se entre os dois uma história obscura de difamação, um enredo policial que ainda se arrasta pelos tribunais.
Os serviços secretos franceses são conhecidos pelas suas audácias, sobretudo desde que foram apanhados a afundar o “Rainbow Warrior” na Nova Zelândia, o navio da Greenpeace no qual morreu um fotógrafo português. Poderá esta imbecilidade de Strauss-Kahn ser também an affair of entrapment ?
Certo é que este é um mau momento para tais desventuras pessoais. DSK estava a desempenhar um papel importante na evolução do Fundo para uma maior preocupação com a sustentabilidade económica dos programas de estabilização financeira, na ajuda aos países da zona Euro e futuramente, no caso de ganhar as eleições francesas, era um dos raros estadistas com standing e visão para guiar positivamente a evolução da União Europeia. C'est dommage.
JSR
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*Nota: Título duma canção popular em francês. Niquer = nicar, copular.
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