Saturday, April 16, 2011

40 - Reestruturar a dívida - O Fim da Terceira República (8)

"Don Quixote" by Scott Gustafson
8. Reestruturar a dívida
Reestruturar a dívida é a expressão politicamente correcta para uma declaração de falência. Funciona para um país, como para uma empresa ou uma família. Um acordo com os credores permite pagar uma parte e obter o perdão do resto. De forma a salvar o que é possível, antes que a economia se esgote na luta contra moinhos de vento.
A definição de inteligência é a capacidade de aprender com os erros e corrigir o rumo. Basta olhar para os exemplos de outros países, mas mais especificamente a Grécia e a Irlanda (por estarem na zona Euro), para se perceber que Portugal já passou o ponto de não retorno, que apesar de todas as austeridades e todos os sacrifícios, haverá num futuro próximo necessidade de reestruturar a dívida.
Não é fácil nem agradável, durante algum tempo os mercados não se arriscam a emprestar e a torneira do crédito fecha-se. O financiamento só poderá vir dos clubes a que se pertence, como o Fundo Europeu e o FMI, que nunca perdem o que emprestam porque são os primeiros a ser reembolsados, e além disso estabelecem as regras da recuperação.
Os países mais ricos, exportadores e parceiros da União Monetária, assim como os Bancos que detêm títulos de dívida dos Estados, detestam esta possibilidade. Desde que os países pobres e os pobres de cada país, forem pagando os juros altíssimos, porque hão-de querer mudar de paradigma?
É preciso quebrar o círculo vicioso, é preciso que haja estadistas que tenham a coragem de declarar que se quer reestruturar a dívida e já. Um pontapé no vespeiro europeu e o problema passa a ser também da União e dos Bancos de todos os países que têm dívida portuguesa. Aumenta a margem de negociação para poder fazer as mesmas reformas indispensáveis, mas com menor sofrimento para a população e maior possibilidade de crescimento da economia.
Encosta também à parede os países e as instituições europeias, de forma a acelerar o estabelecimento dum verdadeiro governo económico para a União. Se é preciso proteger o Euro, que beneficia todos os países europeus mas sobretudo os que mais exportam, porque hão-de ser só os países em dificuldades a sofrer as consequências de não poderem desvalorizar a moeda? Assim como o governo federal americano cria barreiras às consequências nacionais da falência individual dos Estados, como por exemplo através de obrigações federais, assim a Europa tem que impor regras de governo financeiro que penalizem os governos irresponsáveis, mas proteja, na medida do possível as populações de toda a União.
Quando a economia estiver a crescer, os mercados ganham confiança e tudo volta ao normal, excepto que a vida para as pessoas também “normais” melhora mais depressa.
(continua)
JSR 

2 comments:

  1. A luz começa a ver-se ao fundo do túnel. Será que temos políticos de coragem para nos guiar pelo túnel? Será que Fernando Nobre terá essa capacidade mesmo autoproclamando-se apartidário?

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  2. Confesso que não vejo ainda nenhuma luz ao fundo do túnel.
    Quanto ao Fernando Nobre, gostaria de saber se ele, como médico, aceitaria alguém que quisesse trabalhar num hospital directamente como director, sem passar pela faculdade de medicina e as outras etapas da carreira profissional?
    A cada um a sua área de competência, talvez desse um bom ministro da saúde, assim ele e o PSD descredibilisam-se mutuamente.

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