"Palhaço Triste" |
This series of 9 posts was published 5/5/2011 by "Jornal do Fundão" - online edition.
9. A Terceira República? Requiescat in pace.
9. A Terceira República? Requiescat in pace.
Cada país que pede ajuda ao FMI e agora também ao Fundo Europeu (neste caso a Grécia, a Irlanda, Portugal e provavelmente amanhã a Espanha, para não mencionar outros países periclitantes) considera que o seu caso é especial, original, único. No entanto, a única novidade é estes países pertencerem a uma união monetária.
Para quem conheça o trabalho do FMI e de outras caixas mutualistas dos Estados, estas são histórias repetitivas. A culpa nunca é de quem não se soube governar, de partidos que prometem mundos e fundos para ganhar eleições e depois gastam mais do que o país produz. A culpa é sempre de quem empresta e em troca obriga a viver dentro dos seus meios, pagar as dívidas, desenvolver a economia e cumprir as regras de bom comportamento no comércio internacional.
Os governantes sem visão e sem autoridade, necessitam do "papão" duma entidade exterior a quem atribuir a culpa das reformas necessárias mas dolorosas. Quase sempre a estratégia funciona, os eleitores são suficientemente infantis para acreditarem nessas tretas, como afinal acreditam em muitas outras.
Os governantes sem visão e sem autoridade, necessitam do "papão" duma entidade exterior a quem atribuir a culpa das reformas necessárias mas dolorosas. Quase sempre a estratégia funciona, os eleitores são suficientemente infantis para acreditarem nessas tretas, como afinal acreditam em muitas outras.
Mas os factores que entram no sucesso dos programas de ajuda externa, ou no seu falhanço, também são conhecidos. O sucesso vem da honestidade na avaliação, da celeridade do pedido, do acordo das forças políticas, da ordem social e da disciplina na execução dos programas. O falhanço é inevitável quando o desequilíbrio financeiro é excessivo, quando os juros dos empréstimos são demasiado altos e a recessão impede o crescimento da economia, quando o tempo necessário ao reembolso das dívidas não permite que a sociedade aguente os sacrifícios, quando os mercados se conluiam em alcateia com as agências de rating para atacar uma presa em dificuldade e lhe cortam todas as rotas de escape.
Quando a situação assim o exige, é preciso saber jogar o xadrez multi-dimensional e multi-lateral, jogar primeiro a favor da corrente, esperar o momento e então ter a coragem de dizer basta. Por agora, Portugal está sem dinheiro e precisa imediatamente dum empréstimo. Negocie-se com dignidade e obtenham-se as melhores condições possíveis com a ajuda do FMI, que neste caso é melhor aliado do que os Europeus que também vão emprestar os fundos e querem fazer um exemplo dos três irmãos pródigos, obrigando-os a pagar juros elevados. Mas, quando a corda não estiver na garganta, é preciso reestruturar a dívida.
Quando a situação assim o exige, é preciso saber jogar o xadrez multi-dimensional e multi-lateral, jogar primeiro a favor da corrente, esperar o momento e então ter a coragem de dizer basta. Por agora, Portugal está sem dinheiro e precisa imediatamente dum empréstimo. Negocie-se com dignidade e obtenham-se as melhores condições possíveis com a ajuda do FMI, que neste caso é melhor aliado do que os Europeus que também vão emprestar os fundos e querem fazer um exemplo dos três irmãos pródigos, obrigando-os a pagar juros elevados. Mas, quando a corda não estiver na garganta, é preciso reestruturar a dívida.
Em geral, os países em dificuldade, ou mais especificamente as suas elites dirigentes, entram primeiro em negação, depois propagam esperanças fantasiosas e só tarde demais aceitam a realidade da situação. Durante todo este tempo é a população mais frágil que sofre as consequências do pretendido orgulho nacional, mas do muito real egoísmo das cliques governantes.
No caso dos três países do Euro que estão neste momento na berlinda, a situação complica-se com as declarações dos responsáveis da União, que já mencionaram que mais tarde a reestruturação fará parte dos pacotes de ajuda. Quando o génio sai da almotolia, já não volta a entrar. Nem os mercados, nem ninguém de bom senso, acredita que as ajudas presentes não venham a seguir o mesmo caminho.
No caso dos três países do Euro que estão neste momento na berlinda, a situação complica-se com as declarações dos responsáveis da União, que já mencionaram que mais tarde a reestruturação fará parte dos pacotes de ajuda. Quando o génio sai da almotolia, já não volta a entrar. Nem os mercados, nem ninguém de bom senso, acredita que as ajudas presentes não venham a seguir o mesmo caminho.
É nestes momentos que se distinguem os palhaços dos estadistas, nacionais e europeus. Os palhaços desperdiçam o tempo dos espectadores em falsas histórias e falsas querelas, apenas para prolongar o seu próprio tempo na pista. Os estadistas sabem negociar e eventualmente fazer bluff, na defesa dos interesses superiores das nações e da União. Sabem decidir a seu tempo as rupturas necessárias e tomar a responsabilidade de mudar de direcção.
Foi na audácia de rupturas que nasceu Portugal e foi assim que sobreviveu a muitas crises da sua história. Esta é mais uma. Os portugueses precisam de esperança, precisam de estadistas que lhes mostrem uma luz no fim deste túnel em que entraram. A luz duma mudança de regime político, que reforme e actualize a Constituição, as instituições, as estruturas sociais e tudo o resto que daí deriva.
Venha a Quarta República o mais cedo possível. Como estamos ancorados na União Europeia e já não existe o perigo de fundamentalismos ideológicos prevalecerem, só poderá ser melhor do que a Terceira.
Venha a Quarta República o mais cedo possível. Como estamos ancorados na União Europeia e já não existe o perigo de fundamentalismos ideológicos prevalecerem, só poderá ser melhor do que a Terceira.