Scylla and Charybdis |
O "FMI já não vem” titulava ontem o “Expresso”, como eco ao alívio manifestado pelo governo depois de ter capitulado diante das novas condições para ter acesso ao FEEF. Depois do Banco Central Europeu, um governo económico europeu. Já não é sem tempo e significa mais um passo para o governo federal, sem o qual a União Europeia não faz sentido nem pode sobreviver.
Portugal encontra-se neste momento entre o FMI e o FEEF (o Fundo Monetário Internacional e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira).
“Scyllam atque Charybdim Inter” disse Virgílio na Eneida, referindo-se aos dois monstros mitológicos que guardavam um estreito pelo qual tinham que passar os navegantes. Evitar ser devorado por um, significava ser inevitavelmente engolido pelo outro e vice versa. Parece que o governo português escolheu qual dos dois “monstros” prefere, escolha que é perfeitamente compreensível. Infelizmente, isso não impede necessariamente que venha também a ser apanhado pelo outro, como já aconteceu à Grécia e à Irlanda. Além do mais, as condições de austeridade impostas pelos dois são equivalentes.
Não é só na parte mais ocidental da Ibéria que havia um povo que não se governava nem se deixava governar, como escreveu um general romano há cerca de dois mil anos. Nesta altura da história, quase todos os descendentes dos romanos e romanizados, assim como os descendentes dos heróis da Eneida, precisam de ser salvos dos excessos dos seus próprios governos. São os antigos bárbaros do norte da Europa que, com menos erudição e mais racionalismo, ditam as regras de governo que todos os países do Euro vão ter que cumprir…
JSR
Pobres dos vencidos, hoje e sempre. Asneiras do governo à parte (que foram muitas e imperdoáveis)o destempero dos povos iludidos por um breve intervalo de fartura levou-os a este descalabro. Há poucos anos, talvez 5 ou 6, falar em austeridade significava apenas não prosseguir no caminho do endividamento nacional e pessoal e isso mesmo era visto com desprezo e raiva, se todos os outros viviam à grande porque motivo não havíamos nós de provar desse néctar? Se os outros podiam...Basta ver a débil reacção a gastos absurdos, os estádios, a política de autoestradas, de pavilhões, de auditórios, de piscinas, tudo era justificado porque era preciso "aproveitar", tudo era também contado como progresso e riqueza. Será também um estigma dos pobres, a sofreguidão de ter já porque há, lá no fundo, a certeza de que em breve tudo será de novo impossível.Os povos mais habituados à riqueza, e que confiam na sua própria capacidade, são mais prudentes. Talvez porque nas horas más não tenham um sol quentinho que tudo ilumina e aquece, atenuando as horas sombrias das dificuldades. O povo vota em quem lhes promete as delícias do paraíso, sobretudo se se mantiver infantilizado à custa de proteccionismos e o dispensarem de pensar. O título do Expresso é bem um sinal de que continuamos na mesma.
ReplyDeleteDesde sempre, tem que haver quem marche na frente e quem siga atrás. Se todos pertencerem à mesma tribo e não se perderem pelo caminho, não é necessário que haja vencedores e vencidos. Lets see the bright side... já que temos a sorte de ter um clima ameno que afugenta a tristeza.
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