Sunday, January 30, 2011

20 - The Middle Ages of the Middle East

"Like Beads of a Tesbih"
Lebanon, with the takeover by a terrorist party, Tunisia, with the fall of an authoritarian regime, Egypt, with demonstrations derailing, those are just the latest Arab countries’ convulsions to fill the news. Others will follow. The American and European governments walk the razor sharp path between supporting popular aspirations and propping up unreliable allies. Helpless politics complicated by clashes of cultures, medieval versus modern mindsets, runaway demographics and survival in a global economy.
The idle males of all ages, loitering, milling around streets and squares: boys, youngsters, grown men, old men, beggars, street vendors of all stripes. Women just pass by, most of them bundled up, veiled or scarfed. This is the usual human scenery of a Middle East city, a view that strikes every visitor from developed countries. A population explosion as a result of relatively better availability of food and health care, contrasted by a continued lack of proper education. No economic development can ever catch up with such a galloping increase of population and so little improvement of skills.
Like beads of a tesbih, several nations of the Middle East and Africa are falling one after the other into chaos, war and desperation. Not a big fall from their previous authoritarian regimes, skewed economies towards ruling classes corrupted and retarded, a few privileged lording over populations shackled, poor and ignorant. These countries’ travails have unfolded faster since the last world war’s redrawing of borders. Not that the situation before was any better.
In Europe, the Middle Ages were a period haunted by the forces of darkness, the same forces still at work in the Middle East: tribalism, sectarian disputes, superstitious beliefs capturing the minds. In the Middle East, still crossing their Middles Ages period, add to this a resistance to modernity, cultural complexes of inferiority towards “the West” and a plethora of extremist groups supported by rival factions, but poorly controlled by them.
What we see now in the news is neither the beginning nor the end. It will be pursued in the Maghreb and impact the whole of the Arab world. Unfortunately, democracy and development are not granted for tomorrow, the educated middle classes are minorities easily outvoted by the masses of the poor, who may fall prey to the religious and fanatic. The situation can get worse before it will, hopefully and in the fullness of time, get better.      
Meanwhile, the European countries may well anticipate an increase of refugees, which will boost the problems of the existing and restive communities already there, to an unbearable extent.
JSR

Tuesday, January 18, 2011

19 - A Emancipação Artística da América (America’s Artistic Coming of Age)

"Nighthawks" by Edward Hopper
Entre as exposições actualmente no Museu Whitney em Nova York, encontra-se uma particularmente interessante, por testemunhar uma parte do movimento de emancipação artística da América. Uma retrospectiva de Edward Hopper e do seu tempo.
Nos princípios do século 20, os cânones artísticos da América seguiam ainda os modelos europeus. A sociedade endinheirada e os críticos de arte que a serviam, desencorajavam todas as veleidades inovadoras dos jovens artistas inconformados.
Apareceu então Gertrude Vanderbilt Whitney, que fez a ponte entre a burguesia dominante de onde provinha e o grupo de artistas a que pertencia como escultora. Criou um clube que foi o precursor do actual museu e coleccionou uma grande quantidade das obras que constituem ainda hoje a maior parte do seu património.
Esses artistas tiveram o mérito de se dedicar a temas da vida e das paisagens americanas suas contemporâneas, tratadas com as novas técnicas de então, ignorando os cânones do establishment. Retrataram cenas da expansão industrial e da agricultura, da vida nas cidades e no campo, a intimidade das pessoas e a enormidade das máquinas, as transformações e as convulsões do crescimento dum país feito de gentes vindas de todo o mundo. O contraste entre as paisagens da natureza original do continente e o “skyline” das estruturas descomunais feitas pelo homem, como a linha do horizonte com os arranha-céus das grandes cidades.
"Gertrude Vanderbilt Whitney" by Robert Henri
Daí nasceram obras maiores como “Nighthawks” de Edward Hopper e também obras menores como o retrato de própria Gertrude por Robert Henri, “reclinada e de calças”. Conta-se que o marido da retratada nunca permitiu que o quadro fosse pendurado numa parede da sua casa, não queria que os amigos vissem a sua mulher “naqueles preparos”...
Os preconceitos não conhecem fronteiras, variam com a cultura e o tempo, mas fazem parte do lastro obscuro da natureza humana.
JSR 

Saturday, January 15, 2011

18 - A Importância do Voto e de Quem Vota

"The Guardian" by Shannon Rankin
Published 20/1/2011 by "Jornal do Fundão". 
The site "http://cavacosilva.pt/" established a link to this post.

Numa verdadeira democracia não há eleições ganhas de avanço nem há eleições sem importância. O voto é necessário para separar o trigo do joio, entre os candidatos e, nem sempre se dá a isso a devida importância, entre os eleitores.
Um cidadão que pensa tem opiniões e, quaisquer que elas sejam, é preciso exprimi-las das formas previstas pela comunidade de que se faz parte e nas alturas próprias. Os deveres de cidadania impõem participar na escolha daqueles que nos representam e na gestão do património comum.  
Para os outros, os desinteressados, os amorfos, os que são a carga mais ou menos inútil que a sociedade carrega por solidariedade, é natural que se abstenham, estão apenas a ser consequentes com a sua alienação. Por isso é que o voto não é obrigatório.
Em Portugal, eleger o Presidente da República tem uma importância diferente das eleições legislativas. A constituição dá maior representatividade ao Presidente, como Chefe do Estado, mas atribui a responsabilidade de governar ao partido que ganha as legislativas.
Se a personalidade e os poderes do Presidente devem ser moderadores e podem ser ocasionalmente decisivos no âmbito nacional, têm sempre a maior importância nas relações internacionais. No tempo das monarquias, essa importância traduzia-se nas alianças formadas pelos laços do casamento e do parentesco, que facilitavam a comunicação e os entendimentos, embora não impedissem as guerras quando os interesses dos estados fossem opostos.
No nosso tempo, as afinidades e a empatia substituíram os laços familiares e podem facilitar as relações, embora os interesses continuem a ser primordiais. Em períodos difíceis de conflitos de interesses entre os estados, ou entre um estado e os seus credores, transmitir uma imagem de confiança e de estabilidade pode fazer toda a diferença para os interesses nacionais.
As perguntas principais que os portugueses se devem fazer para estas eleições presidenciais são:
Quem representa melhor a nação que nós somos? Que imagem queremos projectar para o exterior? Quem pode coalescer a credibilidade e o respeito que consideramos nos ser devido e de que tanto precisamos neste período de crise?
Como todos os países, somos compostos por todo o tipo de gente, uns mais inteligentes, experimentados, honestos e apresentáveis do que outros. Mas quando saímos em sociedade, e neste caso trata-se da sociedade das nações, queremos mostrar o aspecto mais favorável. Quando  as circunstâncias assim o exigem ou quando queremos atingir um objectivo, como por exemplo apresentar-nos a um exame ou ser bem sucedidos numa entrevista para um emprego, convém conhecer a matéria e transmitir sentido de responsabilidade.
Com todo o respeito que merecem como cidadãos todos os candidatos presidenciais, francamente há grandes diferenças nos seus méritos em relação aos factores que devem constituir a base duma escolha acertada.
Os eleitores imersos na realidade nacional podem ter filiações partidárias, sentir afinidades ideológicas, sofrer de alergias temperamentais, sentir-se indignados com situações específicas ou discordar de posições politicas, mas devem fazer uma escolha em consciência e exprimi-la pelo voto. Para quem observa de fora, o resultado desta eleição vai dizer mais sobre a essência do pais do que capelas inteiras de políticos, analistas, economistas, financeiros, investidores e avaliadores das agencias de rating.
Na hora da verdade diante do boletim de voto saberemos escolher o realismo dos factos como eles são, ou preferimos a fuga poética para um reino de fantasia?  Saberemos escolher a austeridade do trabalho honesto, ou somos tão ingénuos que seguimos para o abismo os tocadores de flauta debitando utopias ideológicas? Saberemos reconhecer a experiência ou preferimos arriscar na emoção crítica e na aventura?
Que país queremos que os outros vejam em nós? Que país somos realmente? Que país merecemos?
JSR

Friday, January 7, 2011

17 - Inside Job

"Webs" by Shannon Rankin
Assistir ao documentário de que toda a gente tem falado, finalmente e em Nova York. Ver desfilar no écran uma porção de pessoas conhecidas de longe ou de perto, assim como vários antigos colegas. Sair da sala e encontrar-se rodeado das instituições mencionadas e dos lugares descritos ou entrevistos nas imagens. Quais são as sensações? Desconforto, irritação, náusea.
Desconforto, porque se trata dum bom trabalho de investigação de factos recentes e das suas consequências. Mantendo o carácter multicultural do documentário, pode-se dizer ironicamente que... teve uma montagem orientada e com agenda, “cousus de fil blanc”; que é fácil ver os erros cometidos depois de acontecerem, como “a Monday-morning quarterback”; que os responsáveis de certos países mostraram uma “schadenfreude” de que em breve se irão arrepender. Além disso, para tornar as situações descritas compreensíveis para a maioria dos espectadores, foi preciso recorrer a uma simplificação excessiva, que pinta os personagens a preto e branco, os bons e os maus. Alguns são realmente como os pintam, mas a maioria dos que são apresentados como completos idiotas, tiveram as suas declarações obviamente editadas, truncadas e provavelmente nem sempre foram citados em contexto. Infelizmente, alguns dos principais actores destes acontecimentos recusaram participar no documentário. Os seus pontos de vista e justificações, que entretanto apareceram noutros meios de comunicação, teriam contribuído grandemente para esclarecer situações e decisões que assim parecem incompreensíveis.
Irritação, porque vários profissionais, alguns em lugares de grande responsabilidade, começaram a alertar a tempo acerca dos perigos iminentes e não foram escutados por quem tinha a obrigação de estar atento e tomar medidas para evitar estes desastres. Ou melhor, esta cadeia de desastres. Porquê? Porque efectivamente existe uma teia de interesses incestuosos entre universidades, instituições financeiras públicas e privadas, reguladores federais e estatais, Bancos e outras empresas, lobbies e legisladores, contribuições para campanhas e poder politico. A igualdade diante da lei é um mito. Um mito necessário e útil, como outros mitos, para manter a crença na comunidade de interesses e na solidariedade social. Mesmo em democracia, embora este seja o único regime politico que, além de declarar essa igualdade como um objectivo, se esforça realmente por o alcançar. Mas que só o consegue de forma muito relativa.
Náusea, porque após a aparente surpresa e o susto real, não se consegue mudar grande coisa em termos de regulação. Depois dos desastres reais das falências de estados e instituições, do afundar das bolsas de valores, da perda das economias aí investidas, da ruína de empresas e famílias, do aumento do desemprego, das perdas dos fundos de pensões que não conseguem pagar as reformas previstas... houve uma avalanche de medidas propostas para aumentar os controles e evitar repetições. Mas essas medidas não foram aprovadas, ou só foram aprovadas parcialmente, pelos legisladores. Com o sentimento de injustiça sentido por todas as vítimas e pela maioria dos cidadãos votantes, como é isso possível? Em vez de medidas eficazes, como de costume foram encontrados alguns bodes expiatórios, os mais dispensáveis, os menos protegidos pela teia de interesses que constitui todas as oligarquias, de todos os países, de todos os regimes.
Conclusões? Algumas. Os sistemas político, económico e financeiro, assim como as nomenklaturas que os alimentam e dos quais se alimentam em prioridade, tornaram-se indispensáveis. Os governos têm que ir buscar os seus ministros e conselheiros ao mesmo grupo de gente que estabelece as teorias, ensina os modelos, implementa os paradigmas, faz a prosperidade e ocasionalmente comete as asneiras, corrige os erros mais abstrusos e... assegura a permanência do sistema geral de funcionamento dos estados. Há alternativas? Há, mas todas as que já foram experimentadas deram resultados piores, por vezes monstruosamente piores. 
JSR 

Monday, January 3, 2011

16 - O Réveillon e a Realidade

New York Glitz
Published 6/1/2011 by "Jornal do Fundão"

Passar a noite do fim do ano em Nova York com um grupo representativo daqueles que fazem “os mercados” é, para quem chega de Portugal (e mesmo que isso seja voltar ao que foi a vida normal durante muito tempo), um reencontro brutal com a realidade. Encontrar no mesmo lugar gente dos fundos de gestão, de bancos de investimento, de grupos de investidores independentes e “venture capitalists”, é uma oportunidade de auscultar o coração financeiro da América e, por extensão sem exagero, do mundo.
Com crise ou sem crise, os detentores de capital têm que investir o seu dinheiro para o fazer frutificar. Quem pára, morre. Os analistas e decisores das instituições financeiras e dos fundos de investimento, assim como os seus lacaios nas agencias de avaliação de risco, fazem a chuva e o bom tempo de quem precisa de emprestar e de quem precisa de pedir emprestado. Determinam-se assim os juros que recebem uns ou têm que pagar os outros, sejam estes últimos estados, bancos ou outras empresas, para se financiarem nos mercados de capitais. As avaliações das agências são neutras de outras considerações que não os interesses de quem lhes paga em relação ao rendimento oferecido, ao risco provável e ao seguro necessário para cobrir esse risco. O capital procura investimentos que assegurem o rendimento mais alto e as condições mais favoráveis. Onde quer que seja e, a prudência recomenda, no leque mais alargado possível de opções.
A presente crise tem múltiplas origens, desde a progressiva “deregulation” das actividades financeiras, ou seja, a diminuição dos controles impostos pelas leis dos estados, que por sua vez permitiram a multiplicação de instrumentos criativos que aumentaram exponencialmente os lucros dos intermediários em detrimento dos interesses dos clientes, até à ganância e desonestidade criminal. Há também uma componente cíclica de excessos incontrolados, devido à complacência e incompetência dos responsáveis das instituições públicas e privadas, que deveriam ter intervindo a tempo. Só alguns o fizeram e esses não foram ouvidos.
Está já em curso o retorno à “normalidade”, isto é, fica tudo mais ou mesmo na mesma. Há correcções dolorosas dos excessos cometidos, sejam balões especulativos que rebentam ou endividamentos imprevidentes que é preciso pagar com suor e lágrimas. Por vezes mesmo com sangue. Regista-se o desaparecimento de alguns dos participantes, as alianças de outros e a sobrevivência dos mais resistentes. Nada de particularmente assinalável para a plutocracia reinante. Porém, o mesmo não se pode dizer dos milhões que acreditaram nas publicidades do crédito fácil, dos investimentos miraculosos, do trabalho garantido, da reforma segura.
Aquilo que mudou realmente foram alguns dos paradigmas a que se habituou a geração que está agora a sair de cena. (Paradigma tem sido uma palavra muito em voga para definir um conjunto de parâmetros constituídos pelas teorias, pelos modelos, pelos métodos usados para tratar um certo assunto numa certa época; uma palavra muito em voga e geralmente mal usada e muito abusada). Esta mudança de paradigmas e a necessidade do render da guarda não é compreendido por muitos, nem aceite graciosamente por outros.
Das conversas bem humoradas e só aparentemente superficiais desta noite de entrada em 2011, vale a pena reter alguns pontos.
A pretendida crise do Euro é uma preocupação para os países que usam essa moeda, porque significa atraso na coordenação económica, financeira e fiscal duma União em progresso recalcitrante. Mas é de interesse muito limitado para o resto do mundo. Os investidores tomam as suas decisões de acordo com a realidade que existir a cada momento, seja no conjunto ou em cada um dos seus membros, seja ela qual for.
O mercado dos cérebros e das competências é cada vez mais global, sem estados de alma nem particular interesse em relação aos países de origem de cada um dos participantes. A referência à nacionalidade é uma curiosidade puramente social, motivo para mencionar memórias de férias ou piadas sobre as idiossincrasias dos dirigentes políticos do momento. A este respeito a mudança em relação à geração anterior é impressionante.
Na década de 1980, os estrangeiros, incluindo os portugueses, que povoavam Universidades, organizações internacionais, empresas multi-nacionais, os grandes grupos económicos e financeiros, mantinham ainda uma relação próxima com os seus países de origem. Voltavam regularmente a férias, muitos aproveitavam as oportunidades que se lhes ofereciam para ensinar, formar empresas e participar na vida politica do seu pais. De entre os portugueses, foram numerosos os ministros, secretários de estado, fundadores e administradores de Bancos e outras empresas, que voltaram ao pais. A experiência exterior e a passagem pela politica compunham um currículo que abria as portas a uma carreira de responsabilidades, de realização pessoal e de postos lucrativos. Eram poucos os que não queriam ou não podiam responder ao canto das sereias da volta à pátria.
Agora, muitos dos da nova geração consideram um possível retorno para trabalhar na sua terra como um falhanço profissional e pessoal, a possibilidade de aceitar um convite para uma participação politica como uma hipótese ridícula. Diminuiu a consideração que havia outrora pelos dirigentes políticos de relevo no círculo do poder, ou melhor, acham que houve uma mudança qualitativa e quantitativa. Enquanto que a geração anterior considerava a maioria dos políticos nas áreas técnicas como capazes, e os incompetentes eram a excepção, agora esta geração considera que a excepção é encontrar políticos competentes. Relatam histórias hilariantes de conversas com personalidades ligadas ao governo e à oposição, perguntam em que universo paralelo é que vivem e concluem que nem vale a pena dialogar sequer, que é uma perda de tempo. Com exagero, mas sem tristeza, sem pena, sem emoção. Resta esperar que continuem a voltar alguns, em número suficiente.
As nações-estados que fizeram a grandeza da Europa desde a Renascença, cuja competição cultural, económica e militar lhes deu uma vantagem decisiva em relação ao resto do mundo até recentemente, deixaram de ter interesse para os novos nómadas globais. As pequenas e médias nações fora da Europa ainda menos. Parece que só contam agora os mega-estados e as suas instituições, os grandes centros económicos e financeiros, as empresas multinacionais na ponta da inovação e da tecnologia, algumas organizações internacionais. A maioria dos contemporâneos mais qualificados desta geração estão espalhados pelo mundo de acordo com a evolução das suas carreiras. Esta tribo dispersa geograficamente, mas unida por múltiplos sistemas de comunicação permanente, por laços profissionais, por relações afectivas, pela competição e pelos interesses comuns, forma agora a sua própria comunidade global. Tudo o resto parece que vêem, cada vez mais e apenas, como paisagem.
JSR